A opinião de ...

75 anos com o Mensageiro de Bragança

1. Há 75 anos, a Europa entrava naquele tempo de trevas que foi a Segunda Guerra Mundial. E, nascia este Mensageiro de Esperança numa era de desespero e de angústia.
Os seus primeiros anos coexistiram com um conflito destruidor de vidas, de comunidades, de padrões de comportamento. De que Portugal ficou distante mas não totalmente imune.
A Igreja Católica conhecia,então,o magistério de Pio XII à escala universal e experimentava a aplicação da Concordata à escala nacional.
O Mensageiro dava conta dessa vivência,no que noticiava e opinava.
 
2. A reconstrução mundial e sobretudo europeia demoraria uma "eternidade". De meados dos anos 40 até aos anos 50. Sempre com o espectro da Guerra Fria, do afrontamento entre os dois blocos ideológicos, políticos, militares, económicos e sociais. Isto, enquanto a nossa Pátria conhecia o começo da muito lenta mas irreversível crise do regime.
Pio XII concluía o seu pontificado e era sucedido pela novidade chamada João XXIII. O Episcopado português sentia tensões diferentes, de que a Carta do Bispo do Porto a Salazar era um primeiro sinal, que o andar da História tornaria mais significativo.
E o Mensageiro persistia na sua faina de difundir Fé, de fomentar Esperança e de nunca esquecer a verdadeira Caridade, que é Amor.
Num quadro que era o largamente dominante na postura do apelidado povo católico.
 
3. Os anos 60 foram muito estimulantes lá fora, mas menos favoráveis cá dentro.Com três frentes militares em África, emigração massiva, migrações internas e uma classe média ascendente a contestar o regime sem lograr promover a sua queda por via reformista.
João XXIII arrancava com o Concílio II Vaticano  - normalmente referido como Vaticano II -, com todas as vicissitudes, e que foram muitas, com que Paulo VI teria de lidar, e a Igreja portuguesa sofria internamente as clivagens que os novos tempos determinavam.
O Mensageiro mantinha o seu percurso doutrinal e informativo.
 
4.As décadas de 70 a 90 assistiram a um galope alucinante no mundo. Na ciência, na tecnologia, no apogeu dos marxismos antes de se
 
esboroarem, no anúncio do regresso dos iluminismos racionalistas, no afrontamento entre blocos que terminaria na implosão do soviético, no aparecimento dos neo-nacionalismos, dos neo-terrorismos, dos neo-liberalismos, no questionar de muitos sistemas e comportamentos vindos do pós-guerra até aos anos 60.
Portugal experimentava o crepúsculo do salazarismo, já não reconvertível, a revolução, a descolonização, a democracia, a integração europeia e depois o euro como moeda, e várias alterações estruturais na economia.
Paulo VI e as convulsões do pós-Concílio cederiam o passo ao longo múnus de João Paulo II, assinalado por uma globalização da mensagem e uma renovação do ímpeto evangelizador.
Entre nós, após anos complexos como os de 70, surgiam dinâmicas diocesanas e paroquiais, movimentos diversos, muitos deles de jovens, formas múltiplas de viver o ser-se cristão em democracia, no quadro europeu e com horizontes cada vez mais vastos.
O Mensageiro captava o sentido da mudança e reafirma os valores cristãos num contexto plural, ecuménico, com acrescidos desafios educativos, culturais, económicos e sociais.
 
5.Até que chegamos ao novo século. Com crises mundial e europeia, relativismos imperantes, contradições chocantes entre os muito ricos e poderosos e os muito pobres e explorados, os avanços notáveis na saúde, na formação, nas comunicações e a desigualdade na distribuição dos efeitos dos passos dados.
E Portugal a sofrer mais de dez anos de crises, dos quais mais de três particularmente dolorosos.
Bento XVI denuncia os factores de crise, em especial a europeia, e Francisco apela à redescoberta do essencial, de raízes por vezes minimizadas na imagem que o mundo constrói da mensagem cristã.
Como amiude,em oito séculos de História, mas, agora, de modo mais ligado às crises vividas, instituições em que cristãos estão presentes, em partilha com todos os demais concidadãos, asseguram redes sociais que tentam atenuar a dureza dos sacrifícios comunitários.
O Mensageiro não esmorece na sua faina de dar voz a princípios, acções, testemunhos de necessidades e de obras colectivas.
 
6.Tempos muito variados os enunciados... A exigirem respostas também elas variadas.
De comum, a palavra do Mensageiro.
Como todo o verdadeiro mensageiro, portador de futuro.
Porque de futuro é, na sua radicalidade, a mensagem cristã.

Edição
3505

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