A opinião de ...

Dai-nos trabalho!

Neste larguíssimo tempo que levamos de pandemia, menos gente nas igrejas, sinto particular necessidade de fazer deste lugar, o meu canto da proclamação da Palavra. Paroquianos retidos em casa e, todos vós de boa vontade, que me ides prestando atenção semanalmente por aqui, já sois muitos, a todos agradeço, bem como a diretor deste jornal, que me deixou montar a banca nesta praça.
Afeiçoei-me muito às pedras da Igreja, por isso lhe vou dando voz, assim como às imagens dos santos, aos retábulos dos altares, aos cantos e, encantos das nossas pequenas igrejas e capelas, museus vivos, que continuam a investir em arte e nas pessoas, deste Nordeste esquecido, classificado, mas tão escassamente apoiado. Falo-vos do adro, sem estar mandatado pelo Concelho do povo. Quantas vezes me afasto um pouco, vou até à eira, pela encruzilhada dos caminhos rurais, onde pulam ainda os caretos pela festa do Santo Estêvão, mas onde também se para às “alminhas”, nestes sinais de um povo simples que reza e canta. Assim se enlaça e desenlaça, ainda hoje, a nossa genuína e milenar cultura popular, por todo o Nordeste Transmontano.
Atrevido lanço palpites sobre o passado, quando a coisa corre bem sinto o apreço, quando corre menos bem, há enganos, já tenho os leais conselheiros, que nas redes sociais da internet, pelo telemóvel e, pelos caminhos da paróquia me vão fraternalmente corrigindo, ajudando, elevando o ânimo para prosseguir. Dou largas à fé e à devoção popular, sinto-o como missão, exerço-o como culto e, abraço a cultura, sinto-me como o peixe na água, “feliz comiendo perdiz”.
É tempo de viver intensamente a Quaresma, guardando o distanciamento higiossanitário, rezando sem distância, ou indiferença. Os que temos a graça da fé não deixemos a confissão, aprofundando o nosso amor a Deus, a vontade de amar e, servir o próximo. Pecadores, reconciliemo-nos sacramentalmente, abeiremo-nos das fontes da graça e, da salvação. O Papa Francisco convoca-nos, particularmente a nós sacerdotes, para vos acolher com caridade e misericórdia. Deixemos que fale o Espírito Santo em nós, sentindo o amor, a ternura e, a misericórdia de Deus. Contai comigo que sou pecador, que me confesso, e com os vossos párocos! Não tenhais medo de nos importunar, pois é com os sacramentos que nos devemos ocupar e, preocupar. Dai-nos trabalho!
Há dias, em conversa com um sacerdote desta diocese, falávamos da Quaresma e, do grande acontecimento que era para uma aldeia as confissões, juntando vários padres para atender dezenas de pessoas, para celebrar o sacramento. Hoje tristes, cada vez mais sós, vamos passando pelo aperto, fieis, padres e leigos, mas creio, novos tempos virão, Deus não nos abandona! Ambos falamos da videomensagem do Papa Francisco: “que Deus dê à sua Igreja sacerdotes confessores, misericordiosos e não torturadores”. A este propósito contava-me ele um episódio dos anos 1970, entre o Pe. Fernando e, o Pe. António. O Pe. Fernando, homem bom, arguto, mas despedaçava 50 assuntos na mesma conversa, tinha sido convidado, a confessar na paróquia do Pe. António. Enquanto o pároco confessava 10 penitentes, o colega atendia apenas um pobre cristão, que ajoelhado à sua frente se contorcia com dores, sobre o húmido e frio lajedo da igreja. No final da manhã, o Pe. António, inteligente, delicado e, de bom humor, dirige-se ao colega exortando-o: “Pe. Fernando, Pe. Fernando, aos fiéis, na confissão, deve doer-lhes o coração e, nãos os joelhos, não os joelhos” [...].
Que aos leigos nunca lhe doam os joelhos e, aos padres a voz para os exortar: “a  confissão dos pecados feita com humildade é o que a Igreja nos pede a todos nós”! [Papa FRANCISCO, 25/09/2013]

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