A opinião de ...

Ambão II

O altar de Pombares sobre o qual já se escreveu em passados artigos realça, por meio dum rasgo lateral na parte direita, que «foi do lado de Cristo adormecido na cruz que nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja» (SC 5). É desse lado que sai uma corrente capaz de fazer compreender a Palavra escutada na assembleia litúrgica e capaz de sustentar os diferentes ministérios assumidos na comunidade cristã. Por isso, de alguma forma se quis marcar o ambão e a sede da presidência de Pombares com os sinais dessa corrente. O material comum a todos estes lugares litúrgicos é o granito. Porém para ilustrar que tudo é atingido com a corrente saída de Cristo, tingiram-se todas as peças com as cores ouro, azul e vermelho. O ouro remete para a vida divina na qual participam todos os batizados nutridos pelos sacramentos, que vêm representados no azul e no vermelho da água e do sangue saídos do coração aberto de Jesus. É efetivamente da Cruz que Cristo oferece aos que n’Ele acreditam o Espírito Santo como primícias dos seus dons.
O ambão, que toma a forma duma sepultura aberta, tem gravado no seu interior essa corrente de vida e de graça, que saindo do coração de Cristo escancara todos os lugares fechados pelo medo e pela morte. A laje que outrora aprisionara, agora partida, serve de escabelo para os pés do leitor. Nesta linha interpretativa do ambão como o sepulcro aberto da manhã de Páscoa, Simeão de Tessalónica no século XV apresenta aquele que proclamava o Evangelho como o anjo que anuncia a Boa Nova da Ressurreição. Assim, o leitor que sobe ao ambão é aquele que empresta a voz à Palavra da Vida que recria os crentes.
Para além desta imagem da sepultura aberta, o Vaticano II associa o ambão a uma mesa. Pede a Constituição sobre a Liturgia que se prepare para os fiéis com maior abundância a Mesa da Palavra de Deus. Ora, pela dignidade da sua construção, o ambão deve recordar aos cristãos que é uma mesa sempre pronta. Em Pombares este estado permanente de mesa preparada pode ser visível a partir do momento em que se entra na igreja. A presença do lecionário aberto é atingível desde a porta de entrada, uma vez que o ambão não tem qualquer inclinação para colocar o lecionário, que é posto sobre uma base rasa e acessível aos olhos de todos.
Como síntese destas duas imagens explicativas do ambão, a sepultura aberta e a mesa, encontramos a oração de bênção do mesmo. Na verdade, em volta do ambão os fiéis repetem a experiência do êxodo das trevas para a luz, páscoa possibilitada pela presença do Ressuscitado, que fortalece com a Sua saborosa Palavra os que seguem pela Sua senda.

Edição
3705

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