Igreja de Santa Cecília, Carrazedo A Partitura Passio Sanctae Caeciliae!
O conhecimento da existência de um templo em Carrazedo, dedicado a Santa Cecília, remonta às Inquirições de D. Afonso III de 1258. Até finais do século XVIII fazia parte da abadia de S. Mamede de Alimonde e pertencia à Casa de Bragança, a par das Igrejas de S. Pedro do Zoio e de N. Srª da Expectação de Refoios. Em inícios do século XIX, Carrazedo tornou-se cabeça de freguesia, englobando as aldeias referidas, sendo a Igreja de Santa Cecília sede de paróquia, tendo como abade Manuel Madureira e Cirne (1755-1833), mentor da revolta brigantina contra os franceses, proclamada a 11 de junho de 1808 pelo Tenente-general Manuel Sepúlveda na Igreja de São Vicente, em Bragança. Atualmente, pertence à União das Freguesias de Carrazedo e Castrelos, que inclui as aldeias anexas de Alimonde e Conlelas. O atual edifício, de traça barroca, remonta à 1.ª metade do século XVIII, conforme data 1732 inscrita no dintel do portal do frontispício. Implantada no centro da aldeia, em arruamento inclinado, sem adro, a Igreja destaca-se pela volumetria, um frontispício altaneiro e campanário imponente. Com o pormenor de ter o altar-mor orientado para Ocidente! O portal principal e o da fachada esquerda são coroados por frontão triangular, com nicho concheado e peanha sem imagética. A decoração interna deriva da 2.ª metade desse século, com o altar da capela-mor e os do Senhor Crucificado e Das Almas na nave, este com irmandade. Posteriormente, do lado da epístola, a ladear o altar Das Almas, foi incluído o do Senhor dos Passos, resguardado em vitrina. Em 1950, houve obras de restauro, indicadas por data registada no “cortinado” que precede os caixotões do teto da nave junto ao arco triunfal. O teto, em berço, e o tramo inferior das paredes são forrados a madeira. Na nave, o coro-alto tem guarda balaustrada e o vão do batistério contém pia oval simples. Os altares-retábulos distinguem-se pela talha a castanho, com filamentos dourados. Pouco comum nas igrejas do concelho. Nos mais antigos da nave, de eixo único, a mesa é em forma de urna, enquanto a adossada ao retábulo-mor, de triplo eixo, é paralelepipédica com desenho dourado eucarístico no frontal. As colunas são de fuste salomónico na parte superior e capitel coríntio, de onde evoluem arquivoltas, nos primeiros, e volutas interrompidas por cartela coroada, no segundo. A decoração é preenchida com anjos tocheiros, putti, acantos, conchas, concertinas e laços, dando uma ideia de festividade tardo-barroca. Já o altar do Senhor dos Passos, com colunas de fuste liso, é de tipologia rocaille. Realce para os referidos painéis hagiográficos: ao centro está São Salvador, que é Cristo Senhor; os Evangelistas São Mateus e São Lucas; os Apóstolos, com exceção de São João e São Judas Tadeu; e onde se encontra presente São Silvestre, Papa e um dos primeiros santos não mártir. O triplo eixo do altar-mor, de tribuna profunda com trono escalonado, expõe a imagem do Sagrado Coração de Jesus, encimado por resplendor coroado. É ladeado por Santa Cecília, Orago da Igreja, e Santa Bárbara, caracterizadas pelos atributos distintivos, sobre pedestal e cobertas por dossel semiesférico. O teto é forrado por 28 caixotões cujos painéis estão “em branco”! Pelo lado da epístola da capela-mor acede-se à sacristia e, antes de estar entaipado, ao púlpito. Tem guarda de madeira balaustrada, base granítica em forma de pirâmide invertida sobre mísula e dossel almofadado em losango, com a pomba do Espírito Santo ao centro. Refira-se a existência de uma 2.ª imagem de Santa Bárbara, antiga, de consideráveis dimensões e em talha policromada, com a torre do martírio segura com as mãos e a cabeça do pai junto aos pés, colocada na nave e voltada para a porta lateral aberta sempre que as intempéries e trovoadas marcam presença, para interceção contra a fúria dos elementos! O tardo-barroco num original de talha a castanho em Igreja de Orago único no concelho.