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A Inteligência Artificial e os seus perigos

A Inteligência Artificial (IA), tal como o seu nome indica, é uma inteligência que não é natural, própria do cérebro humano, mas adquirida através das novas tecnologias. Pode definir-se como sendo a capacidade que as máquinas têm vindo a adquirir para obter e reproduzir competências como a aprendizagem, o raciocínio, o planeamento e mesmo a criatividade, até há pouco tempo exclusivas do cérebro humano. Esta capacidade é obtida pelas máquinas, os robots, através da interconexão de diversos sistemas tecnológicos e computacionais que percebem e interpretam os ambientes e contextos e resolvem os problemas que os mesmos colocam com vista a alcançar um fim específico. O computador recebe os dados já organizados numa base de dados ou recolhe-os, por exemplo, através de um sistema de videovigilância, processa-os através de algoritmos a apresenta a ação de resposta adequada.
Alguns grandes especialistas da IA, nos últimos tempos têm vindo a alertar a humanidade para os seus potenciais perigos e para a necessidade de legislar sobre o assunto. Que perigos são estes? Não temos todos um conhecimento prático de excelentes exemplos do avanço tecnológico para simplificação da nossa vivência diária? Basta pensar na comodidade do uso do telemóvel ou das caixas multibanco. Mas também na saúde, na agricultura e na segurança diária. Ninguém viaja de avião sem se submeter à passagem pelo pórtico de segurança e sem que a sua bagagem seja vistoriada pelas câmaras de raios X.
Geoffrey Hinton, considerado um dos grandes pioneiros da IA, especialista que saiu da Google para poder falar abertamente deste perigo, alerta que “em breve, os chatbots podem ser mais inteligentes que os humanos”. Podemos entender que um chatbot é o mesmo que um assistente virtual, isto é, “um programa de computador capaz de conversar e realizar tarefas”. Estamos então perante a emergência da superinteligência ou a explosão da inteligência, cuja colisão com os direitos individuais já abordei em artigo publicado na edição 3782, de 21.05.2020, com o título “A tecnologia e os direitos individuais”.
Outros perigos associados à IA: 1- Criação e disseminação de informação falsa, tanto através de texto como da imagem, devido à dificuldade humana em discernir entre o que a é realidade e criação virtual falsa. 2 – Utilização indevida de dados pessoais, uma vez que as bases de dados com o nosso perfil completo já existem e são atualizadas em permanência, tanto públicas como privadas, estão sempre sujeitas aos ataques dos hakers, com o objetivo de extrair informação sensível que lhes interessa, como senhas, números de documentos e/ou cartões e moradas para utilização na prática de atividades criminosas: desvio de dinheiro, celebração de falsos contratos, criação de empresas fictícias, etc. 3. A manipulação intencional das regras estabelecidas para elaboração e disseminação de conteúdos preconceituosos, racistas, xenófobos e propagadores dos diversos tipos de violência e de insegurança. 4 – A introdução de vírus para roubar ou sequestrar contas nas redes sociais e nelas espalhar malware ou conteúdos proibidos ou maliciosos.
Os governos e a indústria tecnológica, em diálogo permanente e leal com cientistas sociais, têm que legislar esta explosão da IA, dando prioridade ao sentido de justiça, à responsabilidade, à transparência e à ética, para benefício da vida coletiva e bem-estar social.

Edição
3937

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