A opinião de ...

Matematicamente pensando: Ciência no quotidiano

Qualquer ser humano deve preocupar-se com o seu bem-estar e com o dos outros. Um dos caminhos para que este bem-estar seja conseguido com êxito assenta na ciência. Trazer a ciência para o quotidiano não é mais do que desafiar cada pessoa a procurar compreender o seu mundo de uma forma objetiva e racional, questionando as regras que orientam a sua vida e os fenómenos que ocorrem à sua volta. Assim, não é possível falar de ciência sem falar de conhecimento, o qual pode ser subdividido em conhecimento associado ao senso comum e conhecimento científico (associado à ciência).Enquanto a construção e utilização do conhecimento associado ao senso comum assenta, geralmente, na sensação observável, na subjetividade, na tradição, no que parece ser, na falta de rigor, na falta de questionamento, na falta de análise e não exige demonstração ou sistematização, por outro lado o conhecimento científico é objetivo e rigoroso, exigindo permanente questionamento, análise, sistematização, verificação, previsibilidade e a possibilidade de ser falível.
O objetivo desta reflexão é alertar para a importância que têm os dois tipos de conhecimento no quotidiano das pessoas, não defendendo que se diminua a importância de cada um deles, mas pelo contrário que se complementem e que cada tipo de conhecimento seja usado nos contextos mais adequados. Pois, é tão inadequado enfatizar o conhecimento científico em contextos informais onde as pessoas o não entendam nem aceitem, como promover o conhecimento associado ao senso comum a conhecimento científico, criando-se confusões e promoções com consequências sociais graves e difíceis de solucionar.
O conhecimento associado ao senso comum é útil em muitos aspetos. É importante saber ouvir, e é importante ouvir no dia-a-dia soluções para todos os problemas. Quem nunca ouviu pessoas que não sabem medicina falar sobre modos de curar doenças, quem nunca ouviu falar dos cuidados que se devem ter quando se pretende fazer uma viagem a quem nunca viajou, quem é que ainda não foi aconselhado da forma como se deve lecionar uma aula de quem nunca foi professor, quem nunca recebeu lições de agricultura de quem nunca teve contacto com a terra, quem é que não recebeu ensinamentos de culinária de quem nunca cozinhou, e muitas outras situações que ocorrem diariamente poderiam ser referenciadas e que testemunham a forte influência que o conhecimento associado ao senso comum tem nas nossas vidas.
O conhecimento associado ao senso comum é utilizado por todas as pessoas, no entanto, enquanto para umas é aceite como produto acabado e sem espírito crítico, para outras é o ponto de partida para investigações, no sentido de o questionar, validar ou rejeitar. O conhecimento científico, ao contrário do conhecimento associado ao senso comum implica o desenvolvimento de procedimentos reflexivos, sistemáticos, controlados e críticos que permitem descobrir novos factos ou dados, relações ou leis em qualquer domínio social, técnico ou científico. É da conjugação dos dois tipos de conhecimento que deve resultar uma cultura que permita a cada pessoa, entre outros, distinguir entre o todo e a parte, o bom e o mau, o correto e o incorreto, o justo e o injusto, o adequado e o inadequado, o coerente e o incoerente, o muito e o pouco. Acreditar na importância do conhecimento e no papel que este pode ter na ciência é essencial para promover a interação entre saberes, gerações e culturas em cada contexto onde as pessoas se encontrem.O dia-a-dia desafia o sentido objetivo e prático de utilizar o conhecimento de forma eficaz e eficiente, enquanto a investigação científica preocupa-se em produzir conhecimento consistente e fundamentado com potencialidades para prever e inovar.
Se a ciência por um lado tem tido muita influência na forma como as guerras são conduzidas e por vezes no número de pessoas que sucumbem nessas guerras e em atentados de diversa natureza, por outro, o saldo é manifestamente positivo, nomeadamente na melhoria das condições de vida da humanidade, na esperança de vida e nas tecnologias e comunicações. Olhar para a ciência no quotidiano é questionar o mundo em que vivemos e um desafio para estar atento aos problemas e há procura do melhor caminho para os resolver.

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