A opinião de ...

A futebolização da política

O Dia de Portugal, das Comunidades e de Camões, cujas comemorações foram, este ano, em Trás-os-Montes (na Régua) ficaram marcadas pelas manifestações de professores contra o Primeiro-Ministro de Portugal.
O uso de cartazes com a figura de António Costa transformada na cara de um porco, com dois lápis espetados nos olhos, foi o tema da discussão, mais até do que o discurso agrícola do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre a necessidade de podar ramos mortos sob pena de afetar toda a árvore.
Apesar de os lamentos de António Costa sobre um alegado caráter racista dos cartazes parecerem manifestamente exagerados e um claro aproveitamento político da situação, não deixa de ser verdade que a iconografia utilizada roça o mau gosto (eufemisticamente falando) e está ao nível da agressividade que se vê nas bancadas dos campos de futebol, no meio das claques organizadas.
Esta radicalização do espaço público vem a reboque do crescimento das redes sociais, que trazem, também elas, uma radicalização do discurso, em que qualquer debate rapidamente se transforma em discussão e em troca de insultos.
Se, em primeira instância, os professores conseguiram, com esta manobra, trazer a sua luta para as primeiras páginas e para o espaço mediático, a verdade é que perderam a guerra das perceções.
Pois se até aqui a generalidade da opinião pública acompanhava o seu descontentamento com a evolução das carreiras e, sobretudo, com a instabilidade a cada ano, com milhares de professores obrigados a andar com a casa às costas ou a ter de ter dois empregos para suportar as despesas por amor a uma profissão cada vez mais desconsiderada, a verdade é que, agora, as baterias das críticas se viraram contra os professores.
O lugar de exemplo para os mais novos não se coaduna com a radicalização do discurso patente neste descontentamento gráfico apresentado.
Um verdadeiro tiro no pé que irá afetar as negociações com o Governo a partir daqui, e que poucos mais ganhos trará à profissão nos tempos próximos. Antes pelo contrário.

Entretanto, da Colômbia chegou-nos esta semana a história de um autêntico milagre, com o aparecimento de quatro crianças (a mais velha com 13 anos, a mais nova com um) que sobreviveram à queda de um avião na selva sul-americana e a 40 dias de caminhada errante no meio de um dos ambientes mais inóspitos e perigosos do planeta.
Um milagre que nos faz recordar o poder da fé, de quem nunca desiste nem baixa os braços perante as dificuldades (quer das crianças, quer dos próprios elementos que participaram nas buscas durante mais de um mês). E que nos ajuda a colocar as nossas próprias dificuldades diárias em perspetiva.
Uma lição de vida.

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