A opinião de ...

O ser e o parecer

Se há crítica que se ouve diariamente à sociedade que fomos construindo é a da prevalência do parecer ao ser. Ou seja, as redes sociais têm promovido uma cultura assente no visual, no bem parecer, em detrimento de uma cultura baseada em valores de atuação.
Os e, sobretudo, as influencers digitais apostam cada vez mais na criação de conteúdos que mais não são do que uma janela para um mundo irreal e utópico que em muito pouco corresponde à realidade. Não flatam publicações a ensinar a tirar a foto mais impactante, a mais aventureira, a mais ousada. Abrindo um pouco mais o ângulo da câmara, constata-se que, afinal, tudo aquilo que os nossos olhos viam não passava de uma encenação.
No entanto, ainda há situações na vida em que o parecer tem, ou devia ter, especial relevo e dimensão. Sobretudo quando se fala em seriedade.
Já o imperador romano Júlic César defendia que, à sua mulher Pompeia, não bastava ser séria e honesta, também deveria ser essa a imagem a transparecer para o público, pelo que, em caso algum, deveria estar sob suspeita.
Foi por defender esse ponto de vista que António Costa se demitiu de Primeiro-Ministro quando outros, ocupando também cargos públicos e perante situações mais ou menos semelhantes, se recusam a largar os lugares.
Desta vez não é o nome de Marcelo Rebelo de Sousa que me assalta à ideia (embora também pudesse ser) mas o de Helena Borges. A diretora-geral da Autoridade Tributaria, a entidade que trata de cobrar os nossos impostos, tem tido um comportamento, no mínimo, incongruente com aquilo que o povo espera de um organismo destes.
Sendo a AT tão solícita com o comum do cidadão na hora de exigir o pagamento do imposto, seja ele devido ou não, usa-se uma lógica do “primeiro pagas e depois bufas”, isto é, primeiro o contribuinte deve pagar o que se lhe pede e, depois, reclamar se assim o entender.
No entanto, o mesmo não parece ter acontecido com as grandes empresas envolvidas na transação e detenção das barragens, em que a diretora-geral da AT mais parece advogada de defesa das empresas do que propriamente defensora do interesse comum, dos cidadãos portugueses, finalidade que preside ao cargo a que ocupa.
Por essa razão, por essa incongruência de atuação entre o que se espera de um alto dirigente do Estado e o comportamento observado (ver texto ao lado), Helena Borges está a mais. Se ela não o entende, alguém na administração do Estado deveria mostrar-lho. Nem que fosse António Costa, que até deu mostras de partilhar desta visão, á custa do cargo de Primeiro-Ministro. Em nome da decência e das boas figuras.

Neste tempo de Advento, desejamos a todos os leitores um Santo e Feliz Natal, numa edição recheada de boas sugestões para a quadra natalícia, com o apoio do nosso comércio tradicional, que continua a ser o esteio da imprensa local.

Edição
3966

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