Mais que nunca, respeito e dignidade precisam-se
Cozinhada no interesse imediato das ditas elites políticas, esta sucessão infindável de eleições com que nos confrontamos, ainda que tenha sido desejada por uns tantos, nunca foi compreendida nem aceite por muitos mais, como era mais que previsível, está a condicionar toda a dinâmica do país.
O que por si só, já seria particularmente grave para economia, como era bom de ver, nas atuais condicionantes externas, atendendo às fragilidades e limitações próprias duma pequena economia aberta como a nossa, num cenário de crise generalizada como a atual, se houvesse um mínimo de bom senso e de preocupação com o bem estar das pessoas, esta deveria ser sempre a última solução a experimentar.
Como se isso não fosse razão mais que suficiente para terem juízo, certos génios e iluminados dessas elites, na esperança de, em curto espaço de tempo, poderem ser recompensados com lautas prebendas, optaram por arrastar o país para a atual paranoia eleitoral, retrógrada, fanática e irracional, que não faz prever nada de bom para o futuro da democracia, como se não houvesse mais vida para lá das eleições, sejam elas legislativas, autárquicas ou presidências.
A este propósito, pareceu-me oportuno lembrar o que, em fevereiro, escrevi neste jornal sobre a banalização do recurso a eleições antecipadas:
“Que se faça tudo para que os longos meses das próximas campanhas eleitorais não se transformem num carnaval pegado” o que, lamentavelmente, acabou mesmo por acontecer, apenas com a diferença de que, em vez de um carnaval, já temos garantidos pelo menos mais três.
Depois do tradicional carnaval de fevereiro, fomos brindados com o carnaval das legislativas em março, estamos agora a repetir a dose com as eleições autárquicas, porque não há duas sem três, vamos ter outro com as presidenciais em janeiro e, ao que tudo indica, analisando cuidadosamente o brilhantíssimo e plurifacetado naipe de candidatos que já se perfilam como potenciais inquilinos do palácio de Belém durante os próximos anos, sem terem de se preocupar com o pagamento renda, arcar com as despesas da manutenção, pagar o condomínio e o IMI, preocupando-se apenas em enriquecer o seu curriculum e disfrutar de todas as incontáveis benesses e mordomias que, durante séculos a fio, o vetusto palácio de Belém tem primado em proporcionar a todos os seus ilustres habitantes que lhe dão a honra de nele habitar.
Hoje, aqui e agora, este é o país que temos e onde vivemos e, ao que parece, há quem queira que continuemos a ter e a viver.
Para todos eles e, muito particularmente para todos nós, mesmo no meio deste carnaval saloio em que tentam transformar as nossas vidas, é imperioso e urgente parar para pensar e, duma vez por todas, a quem pensa que é só isto que queremos, que merecemos e a que temos direito, responder com um NÃO, do tamanho da história gloriosa deste povo único, tão consciente das suas obrigações como cioso dos seus direitos.