A opinião de ...

O espírito do Natal e o estado do mundo

Estamos em vésperas da comemoração do 2022º Natal, aqui entendido como o dia do nascimento de Jesus Cristo.
Há muitos sinais da comemoração pagã da efeméride: as cidades cheias de luzes e de música, os vendedores a procederem a todo o tipo de propaganda, as pessoas iludidas pelo engodo, o esbanjamento de dinheiro em bens materiais desnecessários para a vida normal, as crianças inebriadas com tantos presentes.
Mas a comemoração religiosa da efeméride quase se limita às igrejas católicas e aos católicos, cada vez em menor número no Ocidente.
A Igreja Católica, aqui entendida como a Eclésia, a comunidade dos fiéis, portanto, o conjunto dos fiéis, sejam eles responsáveis ou prosélitos, tem vindo a perder, no Ocidente, seguidores e, sobretudo, a não conseguir conquistar novos seguidores. Há que fazer uma reflexão profunda e tornar mais racional, mais atractiva e mais actual a mensagem.
A Igreja Católica é a instituição civil que mais ajuda os pobres, os infelizes, os abandonados, os refugiados, a que mais investe no ensino e na saúde, e é o espirito da caridade e da misericórdia católicas que fundamenta a filantropia, a solidariedade, o humanismo e a acção social que as diferentes instituições da Igreja ou a ela ligadas levam à prática mas a Igreja Católica não pode ser uma instituição exclusivamente virada para os pobres e infelizes. É necessário que a sua mensagem entre também no mundo dos ricos, que governam as sociedades, com desprezo, quase sempre, pela mensagem da Igreja.
Por isso, o mundo não é melhor: a maior parte dos ricos não crê nem na solidariedade nem na misericórdia de Deus. Só crê no oposto destes dois princípios e no egoísmo, seu e dos seus amigos. Muitos deles, por pura hipocrisia, vão à Igreja bater com a mão no peito para que as outras pessoas os julguem bons e para enganar os incautos.
Esta realidade ocorre em todos os domínios da vida social: desde logo pela forma como muitos governos europeus se comportam perante os problemas comuns à Europa, desde os refugiados, às questões étnicas, culturais, religiosas, financeiras e de segurança.
Ocorre até na parte mais crítica da democracia, a da escolha de candidatos a deputados e governantes nacionais, onde a idoneidade e a competência têm sido substituídas pela fidelidade pessoal. Já não é só a fidelidade partidária, problema permanente da nossa democracia: a fidelidade partidária tem vindo a ser substituída pela fidelidade pessoal ao líder.
A literatura da sociologia política está cheia de exemplos destes e de como muitos deles, protagonizados por verdadeiros seguidores do super-homem «nietzscheano», conduziram aos absolutismos que conhecemos ao longo dos séculos XX e XXI, na presunção de que eram e são eles próprios uma reencarnação do salvador Jesus Cristo.
Estes arautos não conhecem as virtudes da moderação, da humildade e da solidariedade, próprias do Natal. Temos de ensinar-lhas.
Feliz Natal para si, que fez o favor de me ler.

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3863

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