A opinião de ...

Do alto dos oitenta e tal anos A saúde

Com oitenta e tal anos, ou perto desta idade, já se viveu muito tempo e, como penso, todos tiveram os seus problemas de saúde.
Enumerar as doenças que, nesta idade, fizeram sofrer quem as viveu, seria um disparate completo. Por isso, aleatoriamente, posso citar apenas algumas que considero muito incapacitantes: tuberculose, cancro, alzheimer, demência, ciática, úlcera e traumatismos vários.
Já noutra ocasião, tive a oportunidade de afirmar que, na adolescência das pessoas acima referidas, (muitas obrigadas a trabalhar duramente no campo, tal como noutros serviços, ou ainda mais duros, a ganhar mal e sem proteção social), diziam que não se podia gastar o dinheiro em folias, porque era preciso “guardar pra uma doença.” E muita gente morria sem qualquer assistência médica.
Esquecendo a ditadura, cuja situação em relação à proteção social é por demais conhecida, vamos colocar-nos na democracia em que vivemos, e que nos é tão cara.
Na altura em que foi criado o SNS, há 45 anos, certamente que a assistência médica melhorou bastante; e muitos utentes se aproveitaram dos seus serviços. Porém, nem tudo se manteve como começou, talvez, além de outros motivos, devido a orientações não coincidentes com as que foram previstas. Por que razão, desde há muito tempo, as discussões sobre o SNS têm sido muito duras? E, enquanto nelas se tenta culpabilizar os alegados responsáveis pela sua degradação, muitos doentes (milhares sem médico de família) vão suportando o sacrifício de aguardar desesperadamente por uma consulta, um exame, uma intervenção cirúrgica, ou um tratamento mais especializado.
Tão mal se tem dito do SNS que leva a crer que este serviço não acode devidamente à saúde dos portugueses. Perante tantos comentários que têm acontecido sobre o seu funcionamento, não consigo vislumbrar tudo quanto teria originado a atual situação de tão importante e indispensável serviço.
Ouvi falar de carreiras e vencimentos dos profissionais de saúde com tanta veemência e intransigência entre estes e o Ministério da Saúde que, por isso, cheguei a duvidar se o SNS iria acabar. E, acabando, todos correríamos o risco de ficarmos à mercê duma tábua de salvação no meio do agitado oceano, sem a possibilidade de que alguém nos salvasse.
Felizmente, houve o bom senso de continuarem as negociações necessárias para um progressivo entendimento, e reconhecer que o trabalho e o mérito de quem trabalha têm de ser devidamente recompensados.
Eu não posso esquecer-me da dedicação e de tanto sacrifício que todos os profissionais (como, suponho, todos soubemos admirar), envolvidos na preservação da saúde daqueles que foram atingidos pela pandemia que assolou todo o mundo – o Covid19 – preservação traduzida numa constante e enorme luta. Sem aquela dedicação e aquele sacrifício, não podemos facilmente imaginar o que teria acontecido.
A par deste reconhecimento, é consensual que são também as boas condições de trabalho que conduzem a uma boa operacionalização dos serviços.
Decerto que, à frente do SNS estiveram pessoas com a capacidade precisa para conduzi-lo da forma mais adequada. Então, como compreender que tenha chegado ao estado em que se encontra?
Não foi, penso eu, por incompetência; e, muito provavelmente, como também penso, por falta de financiamento. Políticas com visões diferentes? Não me sinto preparado para opinar sobre esta dúvida.
Os meus votos vão no sentido de que o serviço de que venho falando consiga reerguer-se para bem de todos aqueles que precisam dele.

Edição
4007

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