A opinião de ...

A grande manifestação

Há cerca de quinze dias, um mar de professores convocados por nove sindicatos participou num desfile monumental que encheu a Avenida da Liberdade, em Lisboa. Este mar de gente (também houve quem desfilasse apoiando a luta dos professores), começou na rotunda do Marquês e acabou no Terreiro do Paço.
De facto, tratou-se de uma marcha de protesto na qual, a par de inúmeros cartazes transportados por esta multidão, um deles sobressaia pela mensagem que transmitia. Era um cartaz com uma única palavra: RESPEITO!
Esta única palavra traduzia, na sua total dimensão, as reivindicações do momento: respeito pela progressão na carreira e forma de admissão na mesma; pela alteração dos Quadros de Zona Pedagógica; pela fixação nas escolas, acabando, assim, com os contratos a prazo, por, em muitos casos, haver docentes que trabalharam há muitos anos e continuam contratados; pelo fim das quotas nos escalões, redução do serviço administrativo, alteração nas deslocações por doença, atualização das remunerações, eliminação da grande distância das escolas, onde serão colocados, às respetivas residências dos professores, melhoria das instalações; e, finalmente, entre outras reivindicações que não consigo trazer à memória, pela contagem integral do tempo de serviço prestado.
No decorrer da Manifestação, vários exemplos nos foi apresentando a Comunicação Social, pelas entrevistas individuais que fez a muitos manifestantes, durante as quais cada um teve a oportunidade de revelar o seu caso, não só problemático como, nalguns entrevistados, dramático – ambos enquadrados nas reivindicações gerais do momento: fixação nas escolas, evitando a instabilidade do próprio docente e dos seus familiares, (mudar de casa todos os anos em cada ano se torna mais difícil encontrá-la a preços acessíveis, tal como todos os anos ter de conhecer e adaptar-se a novos ambientes comunitários); e, além da revelação de outros problemas e dramas, todos eles insistindo na contagem integral do tempo de serviço.
Tratou-se, pois, da Manifestação de uma classe a exigir que lhe seja restituído tudo o que, ao longo de vários anos, lhe foi retirado, no âmbito do RESPEITO que merecem.
Contudo, pelo que nos foi mostrado pela já referida Comunicação Social, as negociações com o Ministério da Educação, muito pouco têm avançado, de tal maneira que as manifestações e as greves irão prosseguir até que haja um acordo que satisfaça ambas as partes.
Este estado de coisas não deixa de ser prejudicial, como se torna evidente, tanto para os professores como para os alunos, os familiares e os encarregados de educação.
Todavia, eu acho não ser de todo impossível que não se chegue a um acordo – acordo que há de sair de negociações para as quais todos deverão partir sem posições irredutíveis, pois, como é sabido, os acordos são feitos de exigências e cedências de parte a parte, sendo impraticável conseguir-se tudo de uma só vez.
Chegados ao ponto em que parece que a situação cada vez mais se agrava, penso que é tempo de acabar com o conflito que dura há muito tempo, e que parece começar a cansar todos os que a ele estão ligados direta ou indiretamente, além do constrangimento que obriga o País a tentar perceber qual a verdadeira razão que tanto move ambas as partes.

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3923

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