A opinião de ...

A pandemia, os médicos e a saúde

“Independentemente dos avanços da ciência e da medicina, as epidemias mortíferas são mais ameaçadoras do que nunca” (Christian de Dove, bioquímico belga e Prémio Nobel da Medicina, 1917-2013)

1. Todos já conhecemos a natureza malévola desta epidemia, mas não o suficiente para lhe fazer frente de forma eficaz e efetiva (dois conceitos distintos), pois este vírus vem assumindo formas diversas espalhando-se profusamente pelo Planeta. Também sabemos que os vírus sempre conviveram connosco, escondidos, aparecendo sempre ‘que se mexe no que está quieto’. Como escreve Janine Silva, bióloga, no P3 (Público, de 4 de Janeiro de 2021): «As doenças são novas porque teimamos em mexer no que está quieto, seja[m] a floresta, os animais selvagens, ou os combustíveis fósseis.» De forma diferente, quis eu significar a relação (muito ferida) entre a pandemia (e o ambiente), por um lado, e o Homem, por outro, no livro que escrevi para jovens (para todos, afinal) – A Revolta dos Animais – que ofereci à Câmara Municipal de Torre de Moncorvo para eventual distribuição nos jovens do Agrupamento de Escolas Dr. Ramiro Salgado. E a outros, querendo a Edilidade.
2. Não esquecemos o grande empenhamento de cientistas, como amplamente tem sido reconhecido. A confiabilidade e a solidariedade que têm demosntrado dão-nos confiança. Mas não nos iludamos com os prazeres momentâneos que, porque crentes na ciência, ela logo nos protegerá. É que, estamos vivendo a pandemia em tempo real, o que nos confere uma posição privilegiada para acompanhar a evolução da doença. O que nem sempre foi assim, pois o que aconteceu ao Dr. Li Wenliang, médico oftalmologista, chinês, a primeira pessoa a alertar o público sobre a pandemia de COVID-19, ilustra bem a incompreensão de que foi objeto por parte dos dirigentes do seu país.
3. E quanto aos médicos (falar dos médicos é igualmente falar dos outros profissionais, claro, mas, agora é sobre eles que reflito), o que se deve afirmar, quando estão na linha da frente, exaustos, mas sempre presentes?
Muito apreciaria enumerar aqui as diversas situações clínicas envolvendo médicos, que José Poças (médico internista e infeciologista, diretor do Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar S. Bernardo – Setúbal, autor do Livro “Ode ou Requiem”), nos refere em texto da própria Ordem dos Médicos. Fica a sugestão de leitura. Decerto que já todos ouvimos pedidos de médicas e médicos nos telejornais: «por favor, ajudem-nos». Estaremos nós a promover a ajuda necessária e oportuna? Ou temos mantido uma posição de fugir pelas brechas das normas?
4.ª O conceito de Saúde evoluiu, de uma forma positiva, de uma posição estática (OMS, 1948) para um conceito dinâmico (Conferência de Alma Ata, 1978) que se traduz num certo modus vivendi, ou seja, a capacidade de cada cidadão deve agir na promoção da saúde e na prevenção da doença. A Carta de Ottawa (1986) veio finalmente alargar esta ideia, a de que a saúde é um recurso ao alcance de todos para o desenvolvimento saudável das comunidades. Assim, as pessoas, os cidadãos, deverão ser capazes de adotar estilos de vida, não apenas para sua salvaguarda, como também para pouparem recursos à sociedade e aos mais necessitados que procuram os serviços de saúde. A saúde não tem preço, costuma defender-se. No entanto, agora tem um preço elevado em vidas, se não respeitarmos o estado de emergência.

Edição
3819

Assinaturas MDB