A opinião de ...

Jornalistas e audiência estão cada vez mais distantes

Pergunte a qualquer jornalista e ouvirá como resposta: os jornalistas trabalham para a sua audiência – leitores, ouvintes e telespectadores. Pergunte a um jornalista de ciência e a resposta será a mesma. E assim deverá ser.

Os jornalistas não trabalham para favorecer os interesses das fontes, sejam eles doutores ou engenheiros, empresários ou políticos, professores ou carpinteiros. E se o fizerem estarão a falhar no seu código de ética, algo que nenhum profissional, seja de que área for, se deve orgulhar.

Os jornalistas também não devem seguir as agendas de terceiros, nem mesmo em temas tão delicados como a saúde e o bem-estar. Têm antes a missão de prestar um serviço público, de fornecer aos cidadãos a melhor informação possível e de expor as falhas daqueles que mais responsabilidades têm perante o público.

Da mesma forma, a missão do jornalista de ciência não é promover a ciência e os cientistas ou falar apenas dos seus benefícios; deve também discutir as incertezas, revelar a fraude científica e a pseudociência, assim como combater a informação falsa e manipulada nas áreas da ciência, saúde, ambiente e tecnologia.

Para cumprirem os seus objetivos, os jornalistas precisam de uma mensagem e de a fazer chegar aos seus leitores, ouvintes e espectadores. E estes são dois grandes desafios do jornalismo.

Primeiro, o acesso à informação, que nem sempre é facilitado; às vezes é bloqueado e outras vezes os jornalistas são enganados sem se darem conta do erro. Quanto mais difícil for o acesso a dados e a entrevistas, mais tempo terá o jornalista de dedicar à sua investigação. E o tempo é o recurso mais escasso na redação.

Depois, conseguir chegar até à audiência: pessoas que não vemos e que só podemos imaginar como serão, pessoas que mudaram os hábitos de consumir notícias e pessoas que decididamente não confiam no jornalismo. A falta de confiança nos jornalistas – até nos jornalistas de ciência – é, aliás, um dos maiores problemas que o jornalismo enfrenta hoje em dia.

A pergunta “o que querem os nossos leitores, ouvintes e espectadores?” não tem uma resposta simples e direta e os comentários deixados nos sites e redes sociais não são um espelho fiel da audiência. Os comentários são muitas vezes agressivos, contra os jornalistas e até contra todos aqueles que defendem uma opinião diferente. As ameaças aos jornalistas são frequentes e as agressões também não são raras.

Enquanto isso, a relação entre a audiência e os jornalistas fica cada vez mais distante e a falta de confiança nos media continua a aumentar. Ainda não encontrei uma forma de solucionar este problema, nem mesmo dentro da área do jornalismo de ciência, mas sei que precisamos de conversar mais. Por isso, obrigada por me ter dedicado este tempo de leitura. Agora, estou pronta para a/o ouvir. Até já.

Vera Novais
Jornalista de ciência

Edição
3932

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