Legislativas'22 - ENTREVISTA A ANDRÉ XAVIER (BE)

"Consideramos crucial o investimento na mobilidade verde no nosso distrito"

Publicado por António G. Rodrigues em Sex, 2022-01-21 10:16

Mensageiro de Bragança: Porque decidiu candidatar-se?
André Xavier:
Decidi candidatar-me, em primeiro lugar, porque acredito que o distrito de Bragança merece mais. Merece uma representação na Assembleia da República que lute por uma coesão territorial séria, que se debata contra os sucessivos encerramentos que têm acontecido, que defenda os agricultores e evidencie as potencialidades de turismo sustentável que o nosso distrito tem para oferecer. Acredito também que é necessária uma voz jovem, pois é a minha geração que mais tem saído do distrito sem condições para regressar. Sem existirem condições, nomeadamente serviços de proximidade e empregos com salários dignos, continuaremos a assistir a um despovoamento e um abandono que não podemos permitir.

MB.: Que diagnóstico traça do distrito de Bragança atualmente?
AX.:
O distrito está esquecido pelo poder central. Faltam serviços públicos de proximidade nas várias áreas que respondam aos problemas da população. Faltam transportes públicos que garantam condições de mobilidade às populações, cada vez mais envelhecidas e que se não tiverem veículo próprio têm dificuldades nas suas deslocações. Falta uma estratégia de desenvolvimento, assente na regionalização, que crie condições para que as pessoas aqui vivam. Mas temos também que evidenciar que vivemos num território lindíssimo, com uma riqueza natural incrível, uma região segura e que pode ser atrativa para o turismo sustentável, assente em parâmetros claros de proteção da natureza.

MB.: Que medidas considera prioritárias tomar para o distrito de Bragança caso seja eleito?
AX.:
É necessário reforçar o SNS, de modo a que os nossos hospitais públicos e centros de saúde da região tenham mais valências e proporcionem um melhor atendimento dos utentes, reduzindo as filas de espera nas mais diversas áreas. Consideramos crucial o investimento na mobilidade verde, ou seja, precisamos da ferrovia de volta ao distrito com a reabertura e expansão da linha do Tua, ligando-a à Sanabria, bem como, de investimento em transportes públicos de qualidade que garantam que as populações que não sejam abrangidas por uma futura linha de comboio também tenham condições de mobilidade, pois, neste momento, em muitos dos concelhos, das aldeias para a sede de município há apenas autocarro de manhã e outro à noite, o que não garante as condições necessárias às populações, e até nos transportes interconcelhios, que são escassos e com horários muitas das vezes não condizentes com as necessidades das populações.

MB.: O que considera fundamental mudar para melhorar a agricultura e a vida dos agricultores do distrito de Bragança?
AX.:
Vivemos num território com potencialidades agrícolas incríveis, seja no azeite, nos hortícolas, nas frutas, castanha e tantos outros que têm que ser potenciados, através de medidas de apoio, essencialmente, no acesso aos fundos europeus, é crucial que haja formação gratuita e de fácil acesso. É também necessário apoiar estes agricultores com estratégias para o escoamento dos seus produtos, pois estes são do melhor que há a produzir, mas têm muitas vezes dificuldades no escoamento, acabando por serem obrigados a vender produtos de altíssima qualidade a baixo preço.

MB.: Como viu o negócio da venda das barragens da EDP? Considera que tudo foi feito para defender os interesses dos transmontanos?
AX.:
Vejo-o com infelicidade, de ser um "arranjinho" para escapar aos impostos devidos. Sabemos a falta que esse montante faz à Terra que o merece, e não nos conformamos! É por isso que o Bloco esteve desde o início desta situação ao lado do Movimento Cultural das Terras de Miranda, na defesa dos interesses destas populações. Continuaremos a lutar pela defesa intransigente dos interesses dos transmontanos, e por esse mesmo motivo, o Bloco de Esquerda decidiu abrir a sua campanha oficial com uma sessão pública sobre as barragens em Miranda do Douro, com a presença da Coordenadora Nacional do Bloco, Catarina Martins e da deputada, Mariana Mortágua.

MB.: O que pensa da regionalização? Considera que deveria ser discutida na próxima legislatura?
AX.:
É urgente, os territórios não podem estar tão dependentes do governo central como estão atualmente, nem de CCDRs não eleitas, ou eleitas por uma sucessão de representatividades que em nada dignifica a democracia. As CCDRs são órgãos com um elevado poder e com difícil escrutínio, e isso não pode acontecer. Creio que a regionalização trará a decisão para mais perto da população, trará democracia e fará com que as pessoas que vivem nos territórios sejam mais capazes de poder escrutinar as políticas seguidas, respeitando as necessidades diferentes que cada território precisa. Ninguém melhor sabe o que falta a cada região do que as pessoas que lá vivem.

MB.: Ao nível da saúde dos transmontanos, o que mais o preocupa?
AX.:
O que me preocupa é estarmos a perder valências e autonomia nos hospitais públicos e esta situação não se pode perpetuar. Relembro que há grávidas a dar à luz em ambulâncias, devido ao longo caminho que devem fazer até ao hospital ou que basta o problema de saúde ser mais sério, que o utente é encaminhado para hospitais fora do distrito. Deve haver um investimento sério no SNS para que consiga colmatar as falhas que existem. Para que não continuem a haver filas de espera de meses e anos em algumas valências e para que, em distritos geograficamente grandes como o de Bragança haja serviços de proximidade que respondam ao que é necessário para as populações. Defendemos também a valorização nas carreiras dos médicos, enfermeiros e de assistentes operacionais.

MB.: Para sair da crise económica que adveio da pandemia, que medidas considera prioritárias para a região?"
AX.:
É necessário investimento, nos serviços públicos, na mobilidade e na cultura, para que possamos apostar na criação de emprego. Só assim conseguiremos fazer a região mais atrativa tanto para as pessoas como para as empresas. Defendemos uma aposta na educação do distrito, de forma a que o IPB possa atribuir o grau de Doutor e que se invista na diversificação das áreas de investigação, para atrairmos mais docentes e, por conseguinte, mais estudantes. Temos que criar condições aos estudantes para que se fixem na região, com empregos, com salário digno e de qualidade, de forma a desenvolverem as competências adquiridas.

 

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