D. Nuno Almeida falou do perdão na celebração do Divino Senhor dos Aflitos
O bispo de Bragança-Miranda, D. Nuno Almeida, presidiu, no passado domingo, à celebração do Divino Senhor dos Aflitos, em Torre de D. Chama, onde falou sobre a importância do perdão.
Na sua homilia, D. Nuno Almeida sublinhou que “ao celebrarmos a Festa do Divino Senhor dos Aflitos, somos convidados a dirigir o nosso olhar para Jesus Cristo Crucificado, a meditar nas suas dores e aflições até à Sua entrega na Cruz, dando a vida para nos salvar”. “Mas também precisamos todos, nas nossas dores, provações da vida e aflições de recorrermos ao Senhor, para nos deixarmos olhar por Ele. Para que o Senhor dos Aflitos nos possa abraçar, perdoar, amar e, para sermos, de facto, “gente feliz com lágrimas” (João de Melo). Lágrimas que lavam a alma e o olhar e abrem a nossa porta do nosso coração ao perdão e à reconciliação. Somos gente feliz mesmo no meio de tantas aflições do nosso mundo, da nossa Igreja, da nossa família, de cada um de nós”, frisou.
O prelado acrescentou que “a Palavra deste domingo e desta festa fala-nos de um bem de primeira necessidade: o perdão”. “De pedir, de dar e de agradecer o perdão. Perdoar sempre e a todos. Deus nunca se cansa de nos perdoar, nós é nos cansamos de pedir perdão a Deus e de dar o perdão aos irmãos”, disse.
Segundo explicou o bispo da diocese que corresponde ao território do Nordeste Transmontano, “o olhar amoroso do Senhor dos Aflitos cura as nossas aflições e converte os nossos coração”. “Capacita-nos para amar e perdoar: que é uma das mais elevadas formas de amor. Perdoar é doar sem medida!
Só se pode perdoar a partir do coração. Para encontrar a paz do coração, a salvação, não nos basta aplicar a justiça, que dá e devolve a cada um o que é devido, que aplica uma pena tendo em vista a reparação pelo mal feito. Também são devidos ao pecador, ao ofensor, o perdão, a misericórdia, a compaixão, a oportunidade de um novo começo. A parábola mostra-nos que podemos ser justos na aplicação da lei, no pagamento das dívidas. Podemos até ser honestos, no cumprimento do dever e, no entanto, sermos malvados e impiedosos!
Jesus ensina-nos a ir além da justiça, sem a negar; ensina-nos que a cura da nossa relação com quem nos ofendeu precisa do imenso dom do perdão. O perdão é o dom perfeito, é a misericórdia que vai além da justiça. A justiça por si só não é suficiente. E a experiência mostra-nos que, limitando-nos a apelar para a justiça, corremos o risco de a destruir. Se Deus se detivesse na justiça, seríamos todos insolventes, na dívida para com Ele [cf. MV, 21]”, disse.
D. Nuno Almeida deixou, ainda, três caminhos de cura e libertação: “Perdoar faz bem e faz-nos bem! A ira e o rancor fazem-nos mal ao coração! Guardar rancor a alguém é ficar a engolir um veneno na grande ilusão de que faça mal ao outro. Na realidade estamos a envenenar-nos a nós mesmos. Podemos até reagir, à primeira, com cólera, indignação, revolta.
Mas se, por fim, não perdoarmos, tudo e sempre, estragamos o nosso coração. Deixamos que a ofensa recebida se torne, no íntimo do coração, uma espécie de ferida mal curada, um vírus maligno em expansão, que nos rói e destrói. Quem não perdoa faz mal a si próprio, alimenta o veneno que o mina, contamina e mata; Perdoar é necessário, para conviver, de maneira saudável, na família, na amizade e no amor e em múltiplas situações da vida. Um casal sem mútua compreensão destrói-se; uma família sem perdão é um inferno; uma sociedade sem compaixão é desumana. Que seria do mundo, se apenas houvesse a justiça e o castigo? Sem o perdão dos outros, sem o perdão aos outros, sem o perdão de Deus, para uns e para outros, a nossa vida seria irrespirável, insustentável! Só o perdão torna a vida viável e saudável; Perdoar não significa esquecer, branquear o mal ou ignorar a injustiça! Perdoar significa recordar a ofensa recebida de modo diferente e acolher o mal recebido como uma oportunidade para a conversão da minha vida, para o meu crescimento e amadurecimento no amor. É verdade que, na prática penitencial da Igreja, ao dom do perdão recebido corresponde sempre uma penitência, um dever de reparação, um esforço de mudança, um sinal da conversão. Sim. Mas, no fim de tudo, e sempre, ninguém paga ou apaga o mal feito, com um simples pedido de perdão, uma devolução ou um gesto de reparação.
Só o perdão, que dá mais que o merecido, pode curar o coração, de quem é ofendido e de quem nos ofendeu. Não perdoo, porque eu seja bom e o outro mereça. Perdoamos um ao outro, porque ambos precisamos de seguir em frente, libertos do peso do pecado e do passado. Pelo que pedir perdão é estar disposto a aceitá-lo. O perdão é um presente com futuro”, sublinhou o prelado.