Esperadas milhares de pessoas para provar os morangos de S. Pedro Velho
No próximo fim-de-semana, São Pedro Velho, aldeia do concelho de Mirandela com menos de 200 habitantes, conhecida por produzir, provavelmente, os morangos mais doces do país, prepara-se para receber milhares de pessoas no regresso da feira dedicado àquele fruto, que já não acontece desde 2019, devido à pandemia.
Apenas quatro agricultores produzem anualmente cerca de 100 toneladas. Perto de dez por cento da produção, estima-se que será vendida nos próximos dois dias.
Acompanhamos uma manhã de trabalho intenso na apanha do morango.
“Têm de se apanhar com jeito para não partir o morango verde que há, nem a flor”. Pouco depois das sete da manhã, aos primeiros raios de sol, Bruna Morais e mais sete pessoas davam início ao delicado processo de apanha do morango.
A poucas centenas de metros da aldeia rotulada como a capital do morango do nordeste transmontano, à beira da estrada, fica um morangal com cerca de dois hectares coberto por centenas de metros de plástico. De chapéu, por causa do sol, e com joelheiras para suavizar o constante contacto com o solo, Bruna confessa que este é um trabalho duro. “Isto ao fim do dia dá cabo de nós, são dores nas pernas e nas costas porque andamos todo o dia amarrados, por isso é que os mais novos não querem nada com isto e passam todo o dia agarrados ao computador e aos telemóveis”, diz esta mulher que já anda nestas andanças há 16 anos, repartidos pela França e Portugal.
Ainda assim, há exceções a esta regra. Regina Martins, com 25 anos de idade, garante que adora todo o tipo de trabalho agrícola, bem como as duas irmãs: Sofia, de 28 anos e Infância de 30 anos, que também a acompanham na jornada de trabalho. “As pessoas novas não gostam da terra, não gostam de sujar as unhas, mas nós sempre fomos habituadas a trabalhar no campo desde pequeninas e gostamos da agricultura”, afirma Regina Martins que dá a receita para esta “arte” de colher morangos: “têm de se pegar com jeitinho, é como se fossem ovos, porque são muito frágeis e ficam logo todos maçados”, diz.
Manuel Pinto, um dos quatro agricultores que anualmente produzem cerca de 100 toneladas de morangos que são vendidos na região, mas também em Espanha, e empregam, sazonalmente, cerca de 40 pessoas, explica que a apanha requer muito cuidado. “Não é qualquer pessoa que pode trabalhar nisto, não se pode partir a planta, porque ela vai servir para um ano inteiro de produção,” sublinha este produtor de morangos que tem características únicas.
O microclima que existe na aldeia, propício ao cultivo do fruto, o solo rico em potássio e a experiência dos produtores que passaram algum tempo em países com tradição de morango, são fatores que conferem um aroma especial ao fruto, mais doce que o habitual. “Ainda agora tive aí pessoas que vieram de Famalicão e depois de os provarem pela primeira disseram logo que não há disto em mais parte nenhuma. É um favo de mel autêntico”, conta.
No próximo fim-de-semana, a junta de freguesia volta a promover a feira do morango, que regressa depois de dois anos de pandemia e Manuel Pinto acredita numa enchente. “Acho que a feira vai ser um fenómeno, já tenho medo de não ter morango para tanta gente que ai vem. Já tenho mais de 100 caixas encomendadas de gente do Porto e Braga, há uma semana”, diz.
Também a autarca local está otimista. “Estão criadas todas as condições para ser o fim-de-semana perfeito. Vai estar bom tempo, as pessoas estão com saudades de sair, de conviver, juntando ao facto de o morango de São Pedro Velho ser um fruto muito apetecível e muito procurado”, adianta Fernanda Guerra.
Diga-se que está igualmente previsto um percurso pedestre com uma particularidade: “os caminheiros vão parar numa exploração onde podem apanhar o morango e levar para casa. Para quem vem das cidades é a oportunidade de aprender a colher morangos e assiste-se a momentos caricatos", assegura a presidente de junta.
Na feira do fim-de-semana, espera-se que sejam vendidos perto de dez toneladas. Cada caixa com 2 quilos de morangos fica a sete euros.