A opinião de ...

Da amizade

Na passada semana almocei com os meus velhos amigos Rogério Rodrigues, João Grego Esteves e Albertino Antunes. O primeiro distinguiu-se como exímio repórter, o segundo no cargo de director de programas na RTP, o terceiro na qualidade de jornalista da área sindical. O Rogério agora cultiva as artes poéticas e o gozo do exílio em Peredo dos Castelhanos, O Grego vê-se grego a decifrar as mensagens encobertas dos falantes nas televisões, o Albertino continua a advogar porque o fisco assim o quer. São gente exemplar, ainda mais no cumprimento do preceito da amizade. O conceito e a hipocrisia que gera foram mote durante o prolongado repasto. Donos de prodigiosa memória enumeraram casos salientes de émulos de Calisto, o tal de Caçarelhos, os quais no palco espelhado da ribalta se faziam importantes, apelidando de maçadores quantos lhe telefonavam fora de horas porque a isso estavam habituados. Desatentos ao devir da história ficavam e ficam surpreendidos quando ao aterrarem na realidade os amigos dos interesses pura e simplesmente se recusam a ouvi-los. Após o calafrio voltam-se para quem não lhes deve nada e com ar compungido procuram reatar relações. O Grego soltou risadas quando apoiei o Rogério numa declaração de mau feitio que ele teve respeitante a homem de letras solerte e desmemoriado, somos émulos na matéria. Ao de cima veio a caso de um Calistinho conhecido pelas piores razões que rilhou os dentes quando um seu protegido fingiu não o conhecer, quando nós perfilhamos a tese de nunca negar o conhecermos e falarmos com quem em dada altura mantivemos relacionamento por distante que fosse. A amizade não se vende nas farmácias, conquista-se, fortalece-se, mantém-se viva mesmo quando estamos largo tempo sem vermos o amigo, os amigos. Nesta altura o famoso banqueiro Ricardo Salgado já deve ter percebido a descida do trono de Coração de Leão ao patim da baiuca onde se vende bacalhau de cura amarela. São os alcatruzes da nora a rodarem ao contrário, vão-lhe sobrar dedos das mãos na contagem dos amigos consignados de verdade. Os clássicos reflectiram sobre o tema advertindo acerca as consequências do desvario no uso do poder, porque os políticos e os banqueiros do verdadeiro mando não têm tempo para as ler praticam más acções, o resultado afecta-nos a todos daí não merecerem absolvição. Como a amizade para mim a amizade não é uma palavra vã, regalo-me convivendo com estes amigos desinteressados e leais. Se ao leitor só lhe aparecem amiguistas, não hesite, afaste-os. Não esqueça a máxima: mais vale só que mal acompanhado.

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3484

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