A opinião de ...

Há quarenta anos

 
Há quarenta anos a DGS eufemismo da sinistra PIDE vigiava, prendia, torturava, violava consciências e cartas, sem respeitar nada, nem ninguém. Eclesiásticos do talante de D. António Ferreira Gomes, generais, catedráticos, cientistas, médicos, professores, historiadores, escritores e jornalistas eram visados particularmente dada a sua influência e saber. Padres empenhados a exemplo de Abel Varzim sofreram agruras de todo o género, juízes desclassificados por não pactuarem com indignidades, os Tribunais Plenários julgavam sem concederem garantias de defesa adequada aos acusados, a nefanda Legião Portuguesa infiltrava-se em tudo quanto era sítio e soprava denúncias sobre denúncias triturando vidas e consciências. Prosaica anedota dava direito a ficha de suspeição, inúmeros jovens foram perseguidos por serem ingénuos, centenas de estudantes receberam castigos por ousarem reclamar liberdade e direito a contestarem a guerra colonial. Muitos no cumprimento do serviço militar foram objecto de humilhações só porque serem assinantes da Seara Nova, sei do que falo, na Torre do Tombo repousam as provas do ora afirmado. Era assim há quatro dezenas de anos, num somatório de quatro décadas de ditadura, tempo de infâmia, superado nos tempos correntes pela de Fidel Castro. Sim, eu sei, nós sabemos, cometeram-se múltiplos e pesados erros, tivemos direito a tristes espectáculos de representação do poder, alguns deles a denotarem laivos de totalitarismo, no entanto, apesar de tudo, ninguém de bom senso ousará contestar a valia da conquista da expressão de pensamento. No referente às mutações sociais basta aferir os índices de qualidade de vida para verificarmos o progresso social mesmo nas camadas populacionais mais débeis. Os cegos porque não querem ver, ao menos lembrem-se das ruas transformadas em chiqueiros, da falta de água encanada, luz, saneamento e vias transitáveis nas aldeias. Só o facto de existirem contentores para a recolha do lixo é exemplo cabal de um viver mais asseado e salubre nas nossas terras. Os atentos e amantes da liberdade afligem-se ante desvarios, desacertos e desvios cometidos por sucessivos governos a redundarem no cinzentismo dos dias correntes prenunciando a possibilidade de trovoada forte contra os alicerces da democracia. Têm, temos, razão para estarmos preocupados. De qualquer modo, até os inimigos do 25 de Abril ganharam no abrir as portas que abriu. Nem que seja para o criticarem. Valeu a pena? Claro que sim!
 

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3470

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