A opinião de ...

Posso dizer Basta?

Senhor Deputado Jerónimo de Sousa
Quem lhe escreve é alguém que nunca conheceu ou viveu em nenhuma das guerras mundiais. O que sabe delas é aquilo que a história trouxe até hoje.
É alguém que tem respeito por tudo e por todos. E, por isso, também pelos mais velhos.
O senhor tem a idade próxima da que teria o meu pai se fosse vivo.
O senhor poderá ter filhos próximos da idade que eu tenho.
E, naturalmente, terá netos como eu poderia ter.
Nada me move conta o senhor enquanto cidadão e enquanto homem, mas tudo me move contra o senhor enquanto político e enquanto secretário-geral do PCP. Sim, porque o senhor é o chefe dos comunistas portugueses.
Desde 1974 que o seu partido nos conta uma história política segundo a qual sem o seu partido comunista não viveríamos, hoje, em democracia. Tem-nos sido dito, também, que o seu partido comunista português lutou muito contra a ditadura de Salazar e que até sofreu, na pele, as consequências dessa luta ao ponto de ver alguns dos seus dirigentes presos como Álvaro Cunhal.
Confesso a minha ingenuidade por ter acreditado, religiosamente, nessa narrativa comunista.
Mas hoje, no dia em que lhe escrevo estas letras quero dizer-lhe, publicamente, que não acredito nessa narrativa comunista.
Hoje não acredito que os comunistas tenham lutado contra a ditadura salazarista.
Hoje não acredito que os comunistas tenham lutado contra o fascismo e muito menos contra o nazismo.
E sabe porquê, senhor deputado, é que a história diz-nos que os partidos comunistas nunca lutaram ou lutam, hoje, contra ditaduras. E a realidade que nos rodeia todos os dias confirma-nos isso mesmo. O senhor e o seu partido comunista nunca criticaram ou fizeram manifestações de repudio contra o regime da Coreia (do Norte), de Cuba, da China, na Nicarágua, da Venezuela, (do Turkemenistão, da Bielorrússia, do Afeganistão, Turquemenistão, do Cazaquistão e de outros países euro-asiáticos) para não falar dos vários países euro-asiáticos dominados por ditadores. E, muito menos, contra a Rússia de Putin.
E a história e a realidade dizem-nos que contra a Rússia nunca – nem pensar!
O senhor e os seus camaradas comunistas lá sabem porquê. Mas nós também começamos a perceber porquê.
Até 1974 nenhum comunista português era tratado pela URSS de Brejnev como tratava Álvaro Cunhal. É verdade, não é senhor deputado Jerónimo de Sousa?
É verdade que Álvaro Cunhal vivia e estava hospedado «num apartamento de 3 assoalhadas» de um prédio com elevador, suportado pelo P.C.U.S. e mais 650 rublos por mês, ou não é verdade, sr. Jerónimo de Sousa?
Eu compreendo a sua dificuldade em convencer os seus netos que os seus ideias políticos são aqueles que mais ajustadas estão para o povo. É que o seu partido comunista anda a perder votos e deputados desde 1976.
E como tal, naturalmente, as fontes de financiamento vão escasseando e o dinheiro não estica também para os comunistas. E, se for preciso, lá esta a Rússia de Putin para financiar os comunistas portugueses da mesma forma que financia a extrema-direita francesa da senhora Le Pen, a extrema-direita italiana do sr. Salvini e os independentistas da Catalunha, segundo foi publicado em órgãos de Comunicação Social.
O seu oportunismo e o seu cinismo covarde não o deixam «nem tugir, nem mugir»

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