A opinião de ...

O poder no feminino

 
O que têm em comum Hillary Clinton, Michelle Bachelet, Dilma Rousseff, Angela Merkel, Laura Miranda, Cristina Kirchner, Indira Gandhi, Golda Meir e Gloria Arroyo? Todas elas são exemplos do poder no feminino. São mulheres que desempenham (ou desempenharam) os mais altos cargos políticos e marcaram de forma impressiva a vida política dos respetivos países.Longe vão os tempos em que as mulheres estavam circunscritas ao espaço privado enquanto os homens se apropriavam de todo o espaço público. Longe vão os tempos em que as mulheres se ocupavam quase exclusivamente das tarefas domésticas e raramente chegavam ao ensino superior ou ao mercado de trabalho. Longe vão os tempos em que as mulheres não tinham autonomia financeira nem reconhecimento público. Longe vão os tempos em que os homens mandavam e as mulheres obedeciam. E longe vai o ano de 1930, em que a primeira mulher, Vigdis Finnbogadottir, foi eleita presidente da República de um país, a Islândia.
As mulheres já são presidentes da República, primeiras-ministras, administradoras de empresas públicas e privadas, diretoras de órgãos de comunicação social, investigadoras, médicas, engenheiras, diplomatas, autarcas, juízas, professoras catedráticas e reitoras. É natural que o sejam, uma vez que há mais mulheres licenciadas e doutoradas que homens. Mas persiste aquela barreira invisível, uma espécie de teto de vidro, que impede as mulheres de chegarem ao topo e de acederem ao patamar onde reside realmente o poder. Raramente as mulheres têm condições de influenciar a tomada de decisão política, financeira ou económica. Tanto assim que nunca houve uma mulher Secretária-geral das Nações Unidas ou da NATO. Nem Governadora do Banco Central Europeu ou Presidente da Comissão Europeia. E são raras as presidentes de conselhos de administração de empresas. É verdade que Christine Lagarde é poderosa Diretora-geral do Fundo Monetário Internacional e que Barack Obama nomeou a primeira mulher, Janet Yellen, para a presidência da Reserva Federal norte-americana. É verdade que o maior Estado-membro da União Europeia, a Alemanha é governado por uma mulher, Angela Merkel, considerada a segunda pessoa mais poderosa do mundo. Continuam a ser casos raros. Houve progressos, sem dúvida, mas também tem havido recuos.
Se na vida política se registaram assinaláveis melhorias foi graças ao sistema de quotas, consagrado na lei (lei da paridade) ou introduzido nos estatutos dos partidos políticos. Sem isso, estima-se que seriam necessários mais sessenta anos para se atingir uma representação equilibrada de homens e mulheres nos cargos políticos eletivos. Pela mesma razão, foi aprovada legislação europeia que visa assegurar uma representação de quarenta por cento de ambos os géneros nos conselhos de administração das empresas. Há apenas 11% de mulheres nos cargos de direção executivos das empresas europeias. Em Portugal, só 7,3%.Apesar dos progressos das últimas décadas, as desigualdades entre mulheres e homens não desapareceram. Persistem as desigualdades no acesso ao mercado de trabalho e na progressão na carreira, no acesso à educação e à saúde e de participação nos processos de decisão, quer no sector económico quer na atividade política. Para além das desigualdades salariais e de uma maior exposição à pobreza e à exclusão social. Portugal é o país da UE em que as desigualdades salariais entre homens e mulheres mais se agravaram. Enquanto uma mulher europeia trabalha, em média, mais 59 dias que um homem para ganhar o mesmo, a mulher portuguesa tem de trabalhar 65 dias. Este fosso salarial não é maior porque os salários dos homens portugueses baixaram consideravelmente nos últimos anos.
Neste contexto, é necessário que as mulheres não sejam discriminadas no acesso aos cursos tecnológicos e científicos e possam conciliar a vida profissional com a vida familiar e pessoal. São, pois, urgentes políticas mais eficazes de conciliação que beneficiem mulheres e homens. Por isso deve ser reconhecido aos pais um direito inalienável e intransmissível à licença de paternidade depois do nascimento ou da adoção de uma criança, sem perda de quaisquer direitos.As mulheres não podem ser obrigadas a escolher entre serem mães ou terem um lugar de chefia. A escolha não pode ser entre acompanhar o crescimento dos filhos ou serem promovidas. A realização profissional é um direito sem sentimento de culpa.
 
 
 

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