A propósito do Ébola - Uma janela entreaberta para o futuro
Sabemos hoje que a dramática situação da epidemia do Ébola na África Ocidental com os seus perigosos respingos para a Europa e Estados Unidos, poderia ter sido controlada e contida com alguma facilidade se tratado a tempo e de forma adequada. Sabemos hoje. Ninguém o sabia e muito menos o previa, há alguns anos atrás. Se o soubessem...
Será possível sabê-lo? Seria de grande utilidade. Sobretudo num tempo em que devido a um abuso de utilização os antibióticos estão a perder eficácia já que os agentes infecciosos se adaptam e adquirem resistência aos medicamentos atuais. A uma velocidade mil vezes superior à que se julgava existir, como recentemente a investigadora Isabel Gordo (nordestina por casamento) demonstrou.
O físico Michael Lässig que desde há muito se dedica à previsão em física e que recentemente se dedicou à Biologia está certo que, brevemente será possível prever a evolução de alguns organismos, nomeadamente de vírus e outros agentes patogénicos. Esta conclusão do cientista germânico encontra eco e suporte, entre outros, nas experiências, estudos e publicações da Isabel e do seu colega Lars Jansen, ambos do Instituto Gulbenkian de Ciência. Por bem pequena que seja a margem de tempo que se consiga obter (a expetativa é que comece por ser, para já, de apenas alguns meses, dificilmente um ano) será de uma utilidade extrema no combate a epidemias sobretudo nas que têm efeitos graves e devastadores como é o Ébola ou como ameaçaram ser a gripe A e a gripe das aves.
Michael Lässig conjuntamente com Ville Mustonen da Universidade de Colónia propõem-se reunir na Fundação Calouste Gulbenkian, em Junho de 2015, cerca de cem reputados cientistas para debaterem esta temática. Apesar de ser um evento restrito e sem acesso ao público, a sua importância e o interesse geral é indiscutível. Imagine-se a vantagem de poder desenvolver uma vacina ou outro medicamento de prevenção e combate a uma doença que ainda não se manifestou mas que se sabe que poderá aparecer num curto espaço de tempo... A economia de tempo, nestas circunstâncias, exponencia a economia de meios, de recursos e, sobretudo, de vidas.
Numa época de crise, de guerra, de pandemias, em suma, de miséria, sofrimento e morte, raios de esperança como os que esta conferência espalha, são uma enorme benesse e um bálsamo para os conturbados tempos que vivemos.