A opinião de ...

TEORIA DOS JOGOS E O EGOÍSMO SOLIDÁRIO

 
 A propósito das últimas eleições gregas e das negociações no Eurogrupo onde  o Governo Helénico é representado por Yanis Varoufakis, tem-se falado muito da Teoria dos Jogos que será uma das suas especialidades.  Um dos exemplos mais conhecidos é o Dilema do Prisioneiro e as suas variantes. Uma delas é o Dilema do Prisioneiro Iterado estudado por Robert Axelrod tendo-se descoberto, experimentalmente, que a melhor forma de um jogador maximizar o resultado é utilisar a técnica tit for tat ou, em bom português, olho por olho. A bondade desta solução foi comprovada em torneios organizados para o efeito. Mas é, comprovadamente, uma solução natural. Marta Moita da Fundação Champalimaud e Élio Sucena da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa provaram que ratinhos de laboratório, colocados perante o dilema optam, precisamente por esta estratégia. Pela forma mais elaborada da mesma que é a retaliação (olho por olho), com amabilidade e perdão. Uma das variantes e que as negociações europeias vieram trazer para a ribalta é o Dilema do Prisioneiro, na versão Galinha. Chama-se assim pelo mimetismo com o jogo de carros homónimo: dois condutores, cada um num dos extremos da pista, iniciam uma corrida ao mesmo tempo em rota de colisão. Se nenhum se desviar, embatem frontalmente e morrem ambos. Se ambos se desviarem, ambos sobrevivem, mas perdem o jogo: são ambos “galinha”. Se um deles se desviar, ambos sobrevivem, mas há um que é o vencedor absoluto. Garantem que é este o que Varoufakis e, através dele o governo grego, está a jogar com a União Europeia e os credores da dívida grega. A hipótese de nenhum se desviar é assustadora. Desconheço a possível transposição desta versão para o mundo animal. Também por isso, interessa-me muito mais teorizar sobre o caso anterior. Porque embora caso a caso a atitude que  melhor resultado garante é a egoísta (pensar só em si), quando o jogo é iterativo e continuado é a cooperação que maximiza o proveito. Francisco Dionísio, igualmente da Faculdade de Ciências, explica este aparente paradoxo. Recorrendo à Teoria da Evolução em que é especialista.
Os seres vivos são egoístas por natureza. Faz parte da sua essência genética, da sua existência, da sua missão: viver, sobreviver e reproduzir-se. Contudo as diferentes vicissitudes e os numerosos inimigos comuns à espécie e ao grupo fizeram com que a cooperação fosse uma estratégia vencedora de sobrevivência. O processo evolutivo consagrou-o como essencial à própria continuidade da espécie, uma dos desígnios do ser vivo na sua própria ótica egoísta. O sucesso da reprodução da maior parte dos actuais seres vivos passa pela possibilidade de esta acontecer em ambiente solidário e de protecção grupal.
Há várias explicações práticas para demonstrar esta “evidência”. As lagartas coloridas são um deles, o outro a rega comum mas o meu preferido é o do grupo de ciclistas fugitivos. Qualquer ciclista, integrado num grupo em fuga, tem, a título individual, a maior vantagem em resguardar-se e aproveitar o esforço alheio até chegar perto da meta. Contudo se todos pensarem da mesma forma, todos se resguardam e rapidamente são apanhados pelo pelotão. Por isso o normal é que, mesmo prejudicando a estratégia individualista, todos cooperam deixando a disputa para o final da etapa. Porque é a que melhor serve, não só os interesses comuns, como igualmente os interesses individuais, mesmo que egoístas.
A solidariedade também pode resultar do egoísmo inteligente!

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