A opinião de ...

De quando em vez… Recordando Antero de Quental e a sua permanente actualidade.

Se Antero de Quental voltasse ao nosso convívio iria suicidar-se uma segunda vez, porque não se iria entender com o Portugal contemporâneo.
Assim, no presente, temos em Portugal o sistema que, colectivamente fomos capazes de gerar, para o melhor e o pior, este é o país que fizemos, esta é a sociedade que construímos. Os partidos políticos e os seus líderes que temos, foram criados à nossa imagem e semelhança. Fomos nós que os concebemos, somos nós que os sustentamos,
Deste modo, Antero não suportaria verificar a existência da cultura hipócrita da etiqueta social, do despacho e do decreto-lei e arremedo do palavreadinho político.
Custaria a Antero de Quental verificar, outras formas de censura, de repressão inquisitorial que continuam a existir no Portugal dos nossos dias. Antero haveria de rescrever a gritante actualidade da sua palestra “Causas da decadência dos povos peninsulares” para nos lembrar que a submissão dos portugueses aos princípios cristãos, condicionou sempre o seu desenvolvimento social, económico e cultural.
De facto, Portugal suportou o pesado fardo duma ditadura durante 50 anos, mas mantém-se inquietação no espírito de alguns ao verificar-se que apesar da redentora revolução de Abril, o Salazarismo continua ainda, em muitos casos, a predominar como mentalidade.
Com efeito, o Antero Socialista e radical ficaria desassossegado com o estado da apatia da actual sociedade portuguesa, como também com o insucesso político de muitos dos nossos governantes.
Finalmente, Antero escreve no dia 26 de Janeiro de 1890, no jornal “A Província” “Portugal ou se reforma politicamente, intelectualmente e moralmente, ou deixará de existir”.
“O tempo passado é igual ao tempo presente que se reflecte no tempo futuro”, um pensamento muito conhecido de um grande escritor inglês.
A fechar, Antero de Quental que, no século XIX antevia já a direcção definitiva do pensamento europeu, deu assim uma acutilante advertência a todos nós, que nos dias de hoje a contas com uma arreliante crise financeira e económica, andamos verdadeiramente desorientados.
Esperemos que este ano de 2021 com energia, muito talento e redobrado esforço, tenhamos força para criar uma nova forma de sociedade, mais livre, mais progressista e mais justa, o que infelizmente ainda não acontece.

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3818

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