A opinião de ...

Uns ganham...porque ganham!... Outros...porque outros perdem!...

Depois de uma campanha eleitoral, pautada por debilitada discussão e deficitária inovação, deixando muitos esclarecimentos por esclarecer e muitas verdades por dizer, teve lugar, no passado domingo, mais um sufrágio autárquico.
Se no decorrer do verão festivo, se assistiu a uma “dança” de candidatos, que procuraram evidenciar elevado requinte técnico na especialidade, e alguma vaidade, não é menos verdade que não faltou a distribuição, em atacado, de beijos e abraços de modo a provocar singular emoção, como se mais alto não falasse o coração.
De facto, tratou-se de um período de uma multiplicidade de festins, em que todos lutavam, obstinadamente, pelos mesmos fins.
Nos discursos, muitos e variados, não faltou a troca de recados, nem a verbalização da vontade potenciar o bem comum, a maior parte sem substrato nenhum.
É claro que cada um puxou a “brasa à sua sardinha”, tentando fazer passar a mensagem de melhorar as condições em cada terrinha.
Globalmente, todos eles procuram tudo fazer para o eleitorado conquistar. Porém, parece ter existido alguma falta de criatividade, de dinamismo, de elevação e verdade, pois o que mais interessava era ganhar.
Bem ou mal esclarecido, o povo lá foi votar. Mas não podemos ficar indiferentes ao facto de o número de votos brancos e nulos, bem como a abstenção, continuarem a aumentar.
Se juntarmos a tudo isto o que terá levado 54,6% dos portugueses a recusarem-se a votar em partidos, postura, talvez, reveladora de cansaço da política que tem vindo a ser exercida, então, deverá ser feita uma reflexão séria sobre o papel dos partidos políticos na sociedade actual e na vida. Uma coisa é certa, se analisarmos os dados e os resultados eleitorais, será fácil concluir que a política não pode continuar a ser feita, quase da mesma forma como se fazia há cerca de quarenta anos. É preciso que evolua, promovendo a liberdade opinião e ação, os valores pessoais, sociais, da educação, do civismo e, sobretudo, da responsabilização.
O papel dos movimentos independentes, bem como os resultados por estes obtidos, são reveladores de que algo deve a mudar e a sociedade quer que mude, potenciando a criação de alternativas credíveis e civicamente responsáveis, num ambiente de democracia participativa.
É, neste contexto, imperioso que as estruturas políticas se adaptem e se abram às novas mentalidades e termine o tempo de endeusar pessoas, por vezes de honestidade moral e intelectual duvidosa, que se comportam como se fossem donas dos votos, ou tivessem o “rei” barriga.
E se existem poucas dúvidas de que alguns ganham, porque ganham mesmo, ou seja porque reúnem competências credíveis que sustentaram a sua eleição, não será menos verdade que há casos em que os triunfos decorrem da manipulação de um sistema instalado, sem que o perfil do candidato seja, prévia e devidamente, avaliado, e ainda outros que triunfam, não por mérito próprio, mas sim por demérito dos opositores, aproveitando-se de contextos ambíguos e de caciquismos desonestos, democraticamente indesejáveis, ou mesmo de insatisfações dissimuladas.
Não obstante a democraticidade apregoada, continua a ser evidente a falta de transparência na validação transversal de competências no desenvolvimento de processos políticos que precedem sufrágios e não só, bem como de cultura do conhecimento que sustente e potencie, de forma esclarecida, o exercício do direito e dever de cidadania.

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