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Mouros e cristãos reconciliados por São Pedro, ou a origem de São Pedro de Sarracenos

Vezes sem repetia D. António José Rafael [1925-2018], Bispo de Bragança-Miranda [1979-2001], o aforisma de Heródoto [484-425 a.C.], o “pai da História”, “pensemos o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”. Talvez por se ter debruçado tanto sobre a história Brigantina, D. Rafael, tenha encarnado como nenhum outro a terra, as suas gentes, a sua cultura, sendo um verdadeiro embaixador transmontano. Talvez, me tenha convencido, pois não diz o povo: “água mol em pedra dura, tanto bate até que fura”? Ao assumir a paróquia de São Pedro de Sarracenos, pesquisei o essencial da sua história, nos Arquivos Distrital e Diocesano, no Abade de Baçal, na História Religiosa de Portugal de D. Carlos Azevedo, nos artigos do Pe. Videira Pires, no Mensageiro de Bragança, no livro do médico “sampedrense”, João da Cruz Pires, nas lendas de Alexandre Parafita e, no “Guia de Portugal de A a Z”, entre outros.
Ora, São Pedro dos Sarracenos é uma aldeia e freguesia portuguesa, do concelho de Bragança, com 15,91 km² de área e 366 habitantes [2011]. A sua densidade populacional é de 23 hab/km². A tradição popular refere que o atual termo de São Pedro foi, noutros tempos, habitado por sarracenos, ou mouros. Nos inícios da reconquista [séc. VIII] os cristãos investiram contra eles para os expulsarem, no sítio das “Oliveiras do Bispo”, propriedade que ainda hoje tem esse nome.
Na refrega os cristãos tinham com eles a imagem do seu padroeiro, São Pedro. De repente, mouros e cristãos ficaram imobilizados e, depuseram as armas. Desta luta não houve vencedores, nem vencidos. Ambas as partes atribuíram o milagre a São Pedro e, que era vontade deste não continuarem a batalha. Passaram, por isso, a viver em paz e a coabitar a mesma terra, que passou a chamar-se São Pedro de Sarracenos. A união dos opostos só mesmo por São Pedro, que aqui contrariou ainda os que dizem que “os mouros vencidos que não conseguiam fugir eram sistematicamente passados ao fio da espada, ou reduzidos à escravidão. Muitos dos que escapavam acabavam por não resistir à desumanidade com que eram tratados”. Isto os mouros no Ocidente, mas no Oriente os cristãos eram tratados de forma análoga, “mutatis mutandis”. Pelo que parece os de São Pedro foram a exceção, a confirmar a regra.
A igreja matriz terá sido construída sobre as ruínas dum templo românico. Adoçado à fachada da igreja sobressai um alpendre, o cabido. A toda a volta deste há um banco corrido em pedra e, no centro uma pia de granito. Junto à entrada lateral, na parede, há três cachorros que poderiam ter suportado outro alpendre. Mais, em cima do muro do adro existe uma pedra retangular, com nove perfurações de 10cm de diâmetro cada, que pode ter sido à rosácea da igreja antiga.
O campanário remata em flecha, a fachada de dupla sineira, a truncar a empena.
A igreja primitiva poderá ser do século VIII, tendo sido reconstruída e acrescentada, sob o primitivo templo, no século XVI.
A igreja matriz fica sobranceira à aldeia, numa elevação conhecida por alto da igreja e, dista do centro da localidade cerca de cinquenta metros.

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