Para angariar fundos para associação ambientalista que trabalha no Vale do Côa Fábio caminhou 8.000 quilómetros

Fábio Inácio, 40 anos, terminou no Vale do Côa, em julho, a caminhada solidária de mais de oito mil quilómetros que o levou aos cinco continentes para angariar um donativo de 8.817 euros à Rewilding Portugal, uma organização ambientalista que trabalha naquela zona do interior com o objetivo de a preservar.
Andou por montanhas e vales, florestas, com chuva frio e calor extremo, passou fome, ficou doente, pensou desistir, mas nunca o fez. Prosseguiu, resistiu e conseguiu percorrer alguns dos mais desafiantes trilhos do planeta terra. “Foi muito duro, mas é muito gratificante acabar e ter os objetivos cumpridos. Passei por muitas dificuldades, calor, frio, muita chuva. Houve um dia em que pensei desistir, na Nova Zelândia, onde choveu muito e andei muitos dias com buracos nos pés porque estavam sempre molhados”, indicou Fábio Inácio ao Mensageiro.
Caminhou sozinho, com tudo às costas, apenas com a missão de caminhar o mundo para transformar a natureza em Portugal, contribuindo para um país mais selvagem. “Levei apenas duas mudas de roupa, uma para caminhar e outra para dormir, para evitar transportar peso. Levava comida para quatro ou cinco dias. Subir e descer montanhas de dois ou três mil metros, atravessar rios, caminhar com tempestades, com muito calor, muitos dias sozinho”, contou.
Se a preparação física é muito importante a mental é fundamental para resistir aos dias em que tudo parece impossível. “Sem isso não se consegue. A gente diverte-se um pouco, mas no resto do tempo é esforço. O essencial é resistir para fazer os esforços necessários para caminhar 15 horas diárias, 50 km por dia, com lesões. A cabeça tanto vai para coisas boas, como para as más”, contou ao nosso jornal.
Fábio, natural de Torres Vedras, definiu este propósito só porque é apaixonado pela natureza e grande admirador do trabalho da Rewilding Portugal, o que o levou a fazer a pé alguns dos trilhos mais desafiantes do planeta, passando por vários países, enfrentando altitudes extremas, florestas densas, intempéries e estradas intermináveis.
O último troço desta jornada, que é certamente épica, foi percorrido no coração do Ermo das Águias, no Vale do Côa, acompanhado por amigos, familiares e pelo diretor executivo da organização, Pedro Prata.
A ideia de caminhar o mundo nasceu depois de Fábio ter concluído, em 2019, o Pacific Crest Trail (PCT), nos EUA, com 4.300 km percorridos em 108 dias. “Agora decidi fazer um desafio maior tanto psicologicamente como fisicamente, com uma caminhada de 8600 km, apesar de só ter cumprido 8300. Fui para o Nepal, depois para a Nova Zelândia, Chile, Argentina, EUA, Marrocos e Portugal. “Terminei junto da Rewilding, pois no fim de fazer uma caminhada destas verifico que temos cada vez menos natureza. Esta associação está a fazer um trabalho espetacular e quis angariar alguns fundos para os ajudar para a dar a conhecer a mais pessoas”, explicou Fábio Inácio que ficou a conhecer a Rewilding Portugal em 2022, e se apaixonou pelo trabalho desta associação ambientalista, que a elegeu como uma causa.
Durante a caminhada, Fábio criou uma campanha de crowdfunding, que estará ativa até 20 de julho, e reuniu mais de 300 contribuições de todo o mundo. Já ultrapassou os nove mil euros de donativos, pois alguns chegaram após ter completado a sua missão.
A jornada começou em outubro de 2024 no Nepal, onde Fábio enfrentou um revés imediato: “No primeiro dia, o único percurso que fiz foi até ao hospital. Fui diagnosticado com dengue e tive de ficar mais 10 dias em repouso”.
Recuperou e fez-se à estrada até ao campo-base do Evereste desde Catmandu a pé, superando altitudes extremas sem dias de aclimatização. Seguiu-se a Nova Zelândia, a via alpina das Richmond e mais tarde, nos EUA, completou o Appalachian Trail, passou pela Patagónia chilena, pelo Atlas marroquino e, por fim, regressou a Portugal, terminando no Grande Vale do Côa.