Projeto de formação do Bragança aposta em estabilidade e crescimento

Francisco Miranda, de 28 anos, mais conhecido no mundo do futebol como Kika, entra na terceira época consecutiva ligado à coordenação da formação do Grupo Desportivo de Bragança. Após dois anos como coordenador de formação, assume agora o papel de coordenador técnico, mantendo ainda a ligação ao plantel sénior como jogador e acumulando funções na estrutura administrativa do clube.
“O meu papel como coordenador reside em assegurar um trabalho bem-feito e estruturado em todos os escalões, além de controlar o processo logístico e gerir os recursos humanos essenciais para garantir os padrões exigidos na formação”, sublinha.
Nesta nova temporada, Kika partilha responsabilidades com Rui Alves, enquanto um novo elemento será anunciado para assumir a coordenação da formação.
Apesar do desgaste físico e da exigência das múltiplas funções que desempenha, o agora coordenador técnico considera que a ligação direta entre o futebol sénior e a formação é benéfica: “Acumular estas funções é importante no envolvimento com os jovens atletas, embora não seja fácil. Tenho feito um esforço enorme em prol do clube, onde as folgas e o descanso ficam muitas vezes de lado.”
Segundo Kika, a formação do clube “está a solidificar-se” e a afirmar “uma nova maneira de trabalhar”, numa evolução sustentada em pilares claros. “Não são os números que nos movem, mas sim dar as melhores condições possíveis com o acompanhamento qualificado das equipas técnicas, além de passarmos os valores humanos essenciais para o crescimento dos jovens, preparando-os para o futuro”, explica, referindo que o clube conta atualmente com cerca de 230 atletas entre petizes e juniores.
Com a ambição de formar atletas que “possam chegar à equipa principal e transportem para o campo a mística do clube”, Kika defende um modelo de trabalho assente no profissionalismo, mas consciente do tempo necessário: “Os resultados surgem aos poucos, com pequenas vitórias neste grande processo. Temos de ter uma atitude séria e equipas técnicas competentes. Cerca de 85 a 90% dos nossos treinadores têm já o nível 2, o que é algo diferenciador na nossa realidade.”
No balanço da época passada, destaca em particular o escalão de juniores, que conquistou o campeonato e a taça distrital, assegurando a subida aos campeonatos nacionais. “Foi uma época marcante para os juniores, mas acredito que podemos considerar positivo todo o trabalho feito nos restantes escalões. Separámos os treinos de petizes e traquinas, conseguimos mais treinadores, tivemos dois conjuntos de benjamins a competir e queremos replicar isso nos infantis. Também os juvenis e iniciados tiveram um crescimento importante, mesmo que os resultados nem sempre o reflitam.”
A entrada da equipa de juniores nos campeonatos nacionais representa um novo desafio para o clube. A estrutura técnica que acompanhará este projeto será liderada por Alexandre Diegues, estando já a decorrer treinos de observação para reforçar o grupo. “A preparação não é fácil, sobretudo no capítulo do recrutamento. Os clubes da região deviam unir esforços para encontrar soluções conjuntas. A exigência competitiva é sabida, e uma das grandes dificuldades será, sem dúvida, a questão dos transportes”, alerta.
Apesar das limitações logísticas, o coordenador acredita que esta participação pode funcionar como estímulo: “É uma porta aberta para a equipa sénior. Vários jogadores já foram chamados a trabalhar com o plantel principal e a continuidade depende agora deles e das decisões da equipa técnica.”
Kika defende ainda que o desenvolvimento do jogador local deve assentar num trabalho diário sustentado, com bons profissionais e melhores condições de treino. “É preciso olhar para os bons exemplos de fora e apostar em infraestruturas. Uma das grandes limitações do clube continua a ser a ausência de estruturas próprias dedicadas à formação, algo que só se resolve com investimento.”
Num clube onde a paixão se sobrepõe, muitas vezes, às dificuldades, Francisco Miranda termina com um objetivo claro: “Queremos dar condições para construir equipas competitivas e incutir o amor ao clube.”