A opinião de ...

A Sociedade VI. A vida na Aldeia – A economia familiar a)

Mesmo já tendo abordado assunto é imperativo recordar a vida em casa, regressando aos 50 e 60. Na ausência de electricidade e gás (era raríssimo alguém ter fogão a gás, sobretudo pela dificuldade de adquirir as garrafas), o uso de lenha para cozinhar e para aquecimento era a única solução. Usavam-se as lenhas provenientes da limpa dos pomares, em especial da oliveira, e do “esgalhar” dos freixos. As vides provenientes da limpa da vinha, de fácil combustão, eram reservadas para acender o lume. Juntava-se todo este material durante o verão nos sequeiros, onde perdiam a humidade excessiva. Com muita frequência ia-se ao feixe, cortava-se mato, como giestas maiores e outros arbustos, que eram atados e transportados em carroças, ou à cabeça, os feixes, pelas mulheres. Estas recolhas eram feitas em baldios ou em propriedades privadas sob autorização dos proprietários. Era também um trabalho muito pesado, que só não evitavam pessoas com menores recursos. Quem passar hoje por uma zona de mato pode verificar a existência de material vegetal, seco de décadas, que representa uma enorme facilidade de combustão e transmissão de incêndios.
Outro equipamento indispensável era o lagar, onde se pisava e fermentava a uva. Nem toda a gente tinha lagar, sendo frequente o seu uso, nos moldes do forno do pão. Antes da vindima lavavam-se as pipas e na vindima havia frequentemente trabalho comunitário, isto é, várias famílias juntavam-se para a vindima em conjunto. O vinho tinha um papel importante, frequentemente excessivo, pois as jeiras aliavam frequentemente o vinho ao salário, e eventualmente às merendas. No fim do dia era na adega que se trocavam ideias e informações com quem passava, com um cibo de pão, figos secos ou, mais raramente, queijo ou linguiça, produtos mais raros e, por isso, mais reservados.
Menos frequentes eram os teares, hoje quase extintos. A lã das ovelhas era lavada, cardada e fiada, trabalho duro e especializado que nem todos sabiam fazer. Os teares eram totalmente artesanais, frequentemente construídos pelos próprios. A sua operação era trabalho de paciência, perícia e com esforço físico considerável. Quase invariavelmente eram operados por mulheres, em especial nas épocas mortas, entre safras, quando era possível utilizar o tempo. Quase sempre era usada lã preta e branca, mas frequentemente associada ao linho, quando ainda havia produção. Os cobertores eram feitos aqui. Tricotar a roupa em casa era vulgar: as camisolas e as meias picavam que se fartavam, dado ser usada lã churra.
Havia diversas safras e festividades onde a vida mudava substancialmente de ritmo, desde logo entre o inverno e o verão, que mais marcavam as diferenças, não só pelos afazeres próprios da época mas também pelo frio extremo, entre Novembro e Março, que condicionava ainda mais a dureza de algumas tarefas. No inverno havia menos trabalhos no campo, para além da apanha da azeitona. Primavera e outono eram as estações mais trabalhosas, com o verão mais sossegado, após a ceifa

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