A opinião de ...

O 25 de Novembro de 1975

Nesse tresloucado tempo, estava a coordenar um acto formativo destinado aos elementos das Bibliotecas itinerantes, os quais vieram para um bom Hotel de Lisboa, a expensas da Fundação Gulbenkian depois de ter obtido a aquiescência do Administrador do Pelouro, o emérito professor doutor Ferrer Correia, bem como a concessão da verba necessária para o pagamento de todas as despesas com a organização do cursilho durante duas semanas, cujo custo total orçou a quantia de uns 600 mil escudos incluindo os «professores convidados», filósofo e professor de literatura clássica, o poeta e antigo Encarregado de Biblioteca Itinerante Alexandre O’Neill, o escritor José Martins Garcia, o professor e também ex-Encarregado de B.I. Magno Grosso.
O Presidente da Fundação, o grande Presidente, Doutor José Azeredo Perdigão ao ouvir a minha explicação do rol de custos, mais o nome do sacerdote jesuíta Manuel Antunes levantou a mão e disse: a verba está concedida.
O clima político fervia de dia para dia, sucediam-se as manifestações, os comunistas não exibiam as facas nos dentes porque Álvaro Cunhal não deixava, o Fitipaldi das Chaimites ameaçava partir os dentes à reacção, o férreo estalinista coronel Varela Gomes portava-se à altura dos comissários políticos bolchevistas na Guerra civil Espanhola. Grassava o receio nas hostes democráticas, a pulsão vingativa nos denominados retornados, a ânsia de poder escorado num bom KGB, assim me disse um doutor do Instituto Gulbenkian de Ciência.
A aproximação do dia 25 levou os açorianos e madeirenses a abandonarem o dito cursilho, os militantes comunistas contrariavam bovinamente o professor José Martins Garcia soletrando a vulgata do Hotel Vitória, esperava-se o confronto militar a todo o momento. Eclodiu nesse dia 25, três mortos, derrota do esquerdismo, encolher de garras dos cunhalistas salvos das iras do coronel comando Jaime Neves de Vila Real dada a perspicácia de Melo Antunes.
Uma série de oficiais do quadro foram colocados em pousio, os milicianos insurrectos despedidos, mais tarde surgiu o relatório das sevícias que envergonham todos pois os autores salafrários não receberam a justa punição.
O triste episódio, levou ao aparecimento de vários livros de múltiplos cambiantes, que li e guardo a par do citado relatório, escutei atentamente a versão do saudoso Fernando Salgueiro Maia, assim fiz com outros militares, os civis que foram lebres da coluna de Salgueiro Maia continuam a referir a sua missão, dos vencedores ouço relatos muito trabalhados, os vencidos resmungam, continuo emaranhado em dúvidas, até porque a História requer tempo, paciência e fontes documentais desprovidas de paixão e interesse próprio.

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3911

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