A opinião de ...

O corte e a costura das listas

Nos anos sessenta do século passado os mais prendados alfaiates de Bragança eram os Senhores Álvaro Gomes, Fonseca (Tirone, por se assemelhar ao galã Tyrone Power), Garrido e Vaz (Canta). No nicho das costureiras imperava a Dona Marília. Estes doutores agulha cortavam de modo a os clientes esconderem desconsolos físicos, ficando a costura entregue aos ajudantes debaixo do olho clínico do patrão da oficina. Naqueles inferninhos de má-língua (boa língua escrevo eu). Ali discutia-se tudo, cortava-se na casaca dos rivais, das famílias legais e putativas, acerca dos aleijões das «elites» do burgo, só escapando os clientes quando iam prestar provas de acerto.
Pois bem, elaborar listas de candidatos a deputados (nesta crónica) é tão custoso como casear na perfeição um fato de estambre ou cheviote, ficando sempre um ressabiado, dois invejosos, três despeitados e um cortejo de curiosos.
Se elaborar listas nos pequenos partidos é trabalho de esconde-esconde, nos de maior dimensão são ingentes tarefas ao modo de capa e espada entre os Mosqueteiros do Rei e os espadachins do Cardeal Richelieu. Vejamos o caso das listas do PSD e PS no distrito de Bragança.
No grémio laranjinha o jogo dos contrários ditou o afastamento de Isabel Lopes e a entrada de Paulo Xavier. A força ou influência de Adão e Silva veio ao de cima de modo exuberante, a doutora Isabel Lopes vai voltar ao Instituto Politécnico. Lamento o ter sido o mexilhão da contenda de há anos.
No PS o ainda deputado Jorge Gomes cai para o terceiro lugar dando a primazia a um e a uma membro do governo. Na altura das eleições de 2018 escrevi sobre a possibilidade de Octávio Sobrinho Teixeira ser cabeça de lista. Não foi, nessa altura Jorge Gomes apesar de ter sido protagonista nos incêndios da tragédia, não tinha sobre os seus ombros o fiasco pessoal das autárquicas de Setembro do ano prestes a findar. Ficou no terceiro lugar na expectativa da raposa à procura de bagos de uva maduros, isto é: se os socialistas vencerem as legislativas de 30 de Janeiro, o Professor Sobrinho Teixeira e muito criticada Berta Nunes devido à forma atabalhoada como correu o repatriamento dos portugueses vindos de Moçambique, podem voltar ao governo dando a possibilidade ao neto do Sr. José Maria Gomes regressar ao Parlamento. O Engenheiro José Mota Andrade nas eleições de 1985 recebeu o beijo da morte por ter apoiado António José Seguro. Recusou o segundo lugar. Bateu estrondosamente com a porta. O secretário-geral das Nações Unidas dizia: é a vida. Pois!
Aos leitores e a todos quantos labutam para este semanário aparecer nas bancas os meus desejos de bom Natal e feliz Ano Novo.

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