A opinião de ...

O tempo

A ínclita Marguerite Yorcenar foi capaz de escrever suculentamente sobre as rugas da História da Humanidade, legando-nos a obra lapidar – O Tempo esse grande escultor – no qual revolve as tripas da condição humana obrigando-nos a reflectir acerca da Clepsidra que nos acompanha até à finitude. Na pré-adolescência quando tinha a possibilidade de contemplar o relógio de água existente no jardim do Museu Abade de Baçal ficava extasiado, no entanto, longe de pensar no zigzag temporal a esculpir vidas, cismas, alpinismo histórico a brotar das montanhas dos nefelibatas sem compromisso com o tempo e as circunstâncias do tumultuoso da nossa História colectiva e os seus heróis e vilões que lhe conferem a substância do tempo nesse mesmo tempo.
Neste dealbar do ano vale a pena ler a profusão de ressabiamentos porque goste-se ou não, levámos a paragens longínquas não só a língua portuguesa, a religião que nos guiava, também cousas prosaicas mas necessárias: colheres, facas, garfos, agulhas de coser o corpo e a roupa desconhecida em muitos lugares da África, da América, da Ásia, da Oceânia. Estes simples, porém não simplórios podem ser multiplicados até à exaustão, de outro alcance pensemos nas ciências puras e aplicadas, nas artes, nas literaturas de múltiplas representações, na diversidade de pensamento saltando muros e barreiras de modo desastrado, cujo desastre maior e mais traumático foi e continua a ser a guerra colonial.
Estamos a entrar em 2022, só os tontos a quem perdoávamos os impropérios proferidos na Praça da Sé e nas ruas do burgo brigantino, são capazes de derramarem optimismo a jorros e conseguem quais bruxas futebolísticas vislumbrarem risonhos sinais de a borrasca dar lugar à esperança. O provérbio sentencia: guarda que comer, não guardes que fazer, ou seja no poupar é que está o ganho, daí temer o resultado dos grossos investimentos anunciados para o Nordeste, não estou a referir-me a devaneios de passadiços suspensos ou jardins à moda da Babilónia, limito-me a recordar promessas de António Costa e seus pavões estrídulos a abrirem o leque de plumas eleitorais.

PS. Neste ano de 2022, Dom José Cordeiro vai tomar a seu cargo a milenar Diocese de Braga, detentora de grandioso passado a perdurar no presente. Ao Senhor Arcebispo desejo as melhores e maiores felicidades no desempenho do espinhoso cargo.

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