A opinião de ...

Afinal, há esperança para os políticos

stamos prestes a entrar, novamen- te, em tempo de campanha eleitoral. Esta, desnecessária, pois as eleições só deveriam ocorrer dentro de dois anos, pelo que a crise aberta pelo chumbo do orçamento era desne- cessária.
Uma crise que resulta do taticismo dos partidos, que consideram ter possibilidades de alcançar mais gan- hos forçando eleições antecipadas, de forma a alterar a correlação de forças na composição da Assembleia da Re- pública.
Um taticismo mais virado para den- tro, ou seja, para o que cada um pode ganhar, e menos para o interesse ge- ral das populações.
Essa tem sido uma das grandes crí- ticas que se faz ao sistema político atual, o afastamento das populações. Atentando aos discursos e ações, salta à vista que, cada vez mais, os políticos vivem dentro de uma bo- lha muito própria, cada vez mais desfasada do real pulsar do cidadão comum.
Sem possibilidade de fazer campa- nha nas ruas, no cara a cara com as pessoas, devido aos efeitos da pan- demia, o combate político da cam- panha passou para os ecrãs de tele- visão, quais ringues de boxes, para confrontos de 25 minutos em que se valoriza a forma em detrimento do conteúdo. O “vencedor” é aquele que “esmaga” o adversário, ouve-se a cada dia nos comentários que se seguem.
Ora, esta é uma visão enviesada do que é e do que deve ser a política, em que alguns cidadãos são mandatados pela maioria para agir em seu nome e de acordo com a sua vontade. Não é um sistema individualizado, em que um líder iluminado decide e age a seu bel prazer. Colocar a tónica mais
no indivíduo do que nas ideias que defende, em nome dos cidadãos que votam em si, leva a sistemas mais to- talitários e a projetos vazios.
Neste cenário, tem esmorecido a esperança nos políticos atuais. Sem grandes causas pelas quais lu- tar, como aconteceu antes do 25 de Abril, muitos homens bons afasta- ram-se da causa pública, abrindo espaço a políticos de carreira, com um conhecimento maior do chama- do “aparelho” partidário e menos do que custa a ganhar a vida no dia a dia, escalando lugares desde as Jo- tas até à Assembleia da República e lugares de governo, passando, mui- tas vezes, pelos gabinetes com car- reiras infindáveis de assessores, sem assessorarem coisa alguma, apenas engordando os orçamentos dos or- ganismos públicos e depauperando os recursos do Estado.
Mas o problema de saúde que vai arredar Jerónimo de Sousa, líder do PCP, da campanha durante quase duas semanas trouxe ao de cima os valores humanos, que deveriam es- tar sempre presentes.
Em maio de 2021, o Papa Francisco dizia que “a política é a forma mais alta, maior, da caridade. O amor é político, isto é, social, para todos”, re- feriu, durante um encontro que de- correu na sede da fundação ‘Scholas Occurrentes’, na capital italiana, ci- tado pela agência Ecclesia. Francisco sublinhou que a falta da universalidade do amor faz com que a política “adoeça”, por causa da “perda de vocação de unidade, de harmonia”.
“As guerras são a derrota da política”, observou.
O Papa considerou que a política “não é um ponto de chegada, é um começo, um início de processos”. “O importante é chegar à harmonia, à unidade”, apontou ainda. Jerónimo de Sousa mostrou-se sur- preendido e emocionado com as várias mensagens de melhoras que lhe chegaram, sobretudo dos adver- sários políticos de debates encarni- çados.
Um exemplo do que deveria ser a re- gra e não a exceção.

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