A opinião de ...

Despedida, sem vergonhas

Adriano Moreira era um dos nossos. E isso deve ser motivo de orgulho. Mas, também por isso, o Nordeste Transmontano ficou agora mais pobre. E isso é, naturalmente, motivo de tristeza.
Cada conversa com o Professor Adriano Moreira era uma lição. De vida, de sapiência, de pensamento.
Filho de um polícia e neto de um moleiro, era natural de uma aldeia cravada no coração do Nordeste Transmontano, Grijó, no concelho de Macedo de Cavaleiros, onde as oportunidades não abundavam no início do século XX, Adriano Moreira não se deixou limitar pela pequenez do cenário. E fez-se grande. Um dos maiores.
A unanimidade que atravessou o país na hora da morte de Adriano Moreira não deixa de ser um sinal disso mesmo. Porque, mais do que declarações de circunstância, habituais quando uma figura pública deixa de estar entre nós, foi a pluralidade de reações, todas elas enaltecendo o Homem.
Aqui, no Mensageiro, tivemos o prazer e a honra de o ter como colaborador, até o corpo se tornar demasiado frágil. Uma fragilidade de que a mente não padeceu.
Os seus escritos permanecem disponíveis no nosso site, na secção de opinião, para quem se quiser deliciar.
Leitor atento do jornal diocesano, chegou mesmo a citar as nossas reportagens nos artigos de opinião que publicava noutros jornais, como no Diário de Notícias.
Figura ímpar, mantinha um sentido de humor apurado, apenas suplantado pelo seu sentimento de pertença à região que o viu nascer.
Por isso, apesar da grande ligação com o avô materno, fez sempre questão de ignorar um dos seus conselhos. “Quando estiverem com muita gente, não digam que são transmontanos. Os outros podem não ser e ficam incomodados”, ria-se, quando contava esta história.
O corpo de Adriano Moreira sucumbiu a 100 anos de atividade intensa. Mas a memória, essa, ficará para sempre a recordar-nos a honra que é termos nascido onde nascemos... Sem vergonhas nem medo de incomodarmos quem quer que tenha tido o azar de não ser transmontano como nós...

Edição
3907

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