A opinião de ...

A mesma medida para o que é diferente provoca diferenças ainda maiores

regresso às aulas que hoje se concretiza na maioria das escolas do país constitui um dos maiores desafios para a nossa sociedade nos próximos tempos de pandemia.
A convivência de milhares de alunos, professores e funcionários no mesmo espaço é um potencial de contágio sem precedentes.
Depois de seis meses afastados das escolas, os alunos, sobretudo os mais novos, estarão, certamente, ansiosos pelo regresso ao convívio com amigos e colegas e às brincadeiras do costume.
Mas o mundo já não é o mesmo de quando, em março, entraram nas mais longas férias de Páscoa de que há memória.
Adequar a necessidade de afastamento e desfasamento de horários, de turmas multiplicadas e circulação em corredores com as instalações muitas vezes pré-históricas de muitas das nossas escolas torna a tarefa ainda mais desafiante.
Até porque é em Lisboa que são desenhadas muitas das orientações emanadas para todas as escolas do país e já se sabe como tão diversas podem ser as condições de uma escola do Nordeste Transmontano quando comparada com uma da linha de Cascais.
É que, por lá, não haverá grande dificuldade em, por exemplo, cumprir a orientação de ventilar as salas de aula, com portas e janelas abertas.
Por cá, terras de montanha e de inverno fresquinho, a geada e o vento gélido continental ameaçam fazer mais estragos na propagação do vírus do que os maiores ajuntamentos deste verão.
Não se pode tratar da mesma forma o que é diferente. E é preciso dar condições para que os responsáveis das escolas possam cumprir as orientações emanadas de Lisboa.
Porque os alunos transmontanos têm tanto direito ao conforto térmico que favorece a aprendizagem como os seus colegas do resto mais quente do país.
Mas este é apenas um exemplo pois mesmo dentro do distrito de Bragança há escolas recentes, outras em remodelação e outras ainda que já não veem obras desde o século passado que terão desafios diferentes de distribuição de alunos e cumprimento de recomendações.
Mais do que nunca, é nesta altura que se pede a articulação entre entidades diferentes, da educação e da saúde, e a descentralização da tomada de decisão, aproximando a escolha de medidas da realidade em que vão ser executadas. Não é de política que se fala mas de saúde pública e, essa, interessa a todos.
No entanto, quando se pede aos pais que não mandem para a escola filhos com o mínimo de sintomas, convém permitir, também, condições para que esses pais, trabalhadores, o possam fazer sem que se estejam a dar a um luxo.
Tal como era esperado que o mês de agosto trouxesse o aumento do número de casos que se verificou no início de setembro, também é mais ou menos consensual que outubro vai conhecer novo pico após o retomar das atividades letivas a partir desta altura.
Importa, pois, manter o máximo de atenção nas próximas semanas pois é entre a contaminação e a deteção do vírus que se encontra o principal problema.
E, pelo que se viu no período de férias, a grande maioria, se não totalidade, dos novos casos prendeu-se com o relaxamento das medidas de segurança exigidas a cada um.

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