A opinião de ...

Os desperdícios das eleições

Aqui há umas semanas, o excelente trabalho do jornalista Fernando Pires, publicado nas páginas aqui do Mensageiro, levantou muita celeuma em algumas franjas de comentaristas das redes sociais.
Isto porque a notícia do Fernando titulava que, no distrito de Bragança, nas eleições legislativas de 2024, tinham sido desperdiçados mais de 20 mil votos que, literalmente, foram para o lixo.
E isto porquê? Porque só os votos nos dois principais partidos, PSD e PS, se traduziram, de facto, na eleição de deputados, o fim último daquelas eleições.
Os restantes não contaram para rigorosamente nada. Foram votos desperdiçados. E foi isso que levantou a celeuma. Mas poucos se deram ao trabalho de interpretar, de facto, o português.
Porque com o atual sistema eleitoral que está em vigor, o distrito de Bragança elege três deputados, com a distribuição de mandatos a seguir o método de Hondt.
Resulta daí que a eleição de deputados no Nordeste Transmontano seja bastante ‘cara’, pois exige muitos votos.
De tal forma que o terceiro partido mais votado em 2024, o Chega, conseguiu 13216 votos e, mesmo assim, não conseguiu eleger nenhum parlamentar.
Portanto, os votos que não foram em PSD e PS foram desperdiçados não porque não tenham sido nesses partidos mas porque a vontade popular, expressa nos votos (de protesto ou não) nesses partidos não se materializou em coisa alguma. Foram para o lixo.
Não quer isto dizer que os eleitores só podem votar em dois partidos no distrito de Bragança. Antes pelo contrário.
Quer dizer que, se calhar, é altura de rever o sistema eleitoral que temos em vigor e que, a nível nacional, ‘desperdiça’ mais de 700 mil votos. A vontade de quase um décimo dos portugueses não é escutada.
No distrito de Bragança, quase um terço (30,35%) dos votos, quase um em cada três, não contou para rigorosamente nada.
Mais. Se somarmos os votos brancos (890) e os nulos (972), temos 1862 votos de protesto. Seria a quarta força mais votada nas eleições do ano passado, apenas atrás de PSD, PS e Chega e mais do que todos os outros partidos.
Números que tornam evidente a necessidade de reformar o sistema eleitoral.
Um assunto que há anos tem sido discutido mas que nunca passou disso mesmo.
Tudo porque dois partidos opõem-se ainda e sempre à reformulação. Pensou em PS e PSD? Adivinhou. Estava bom de ver.
A criação de um círculo de compensação nacional, para onde fossem encaminhados os votos que não tinham elegido ninguém, seria uma solução para este problema. Mas já há 30 anos que o Nobel da Literatura, José Saramago, defendia que os votos em branco deveriam ser contabilizados para anular a eleição de deputados. Olha se a moda pega?

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