A opinião de ...

Socializar, como e o quê?

Bem ao contrário do que muitos acreditam (?), e uns tantos teimam em querer convencer-nos, a grave situação económica e social desencadeada pela pandemia COVID-19, não está resolvida, nem sequer controlada, pelo que, tudo o que se faça para criar a ilusão de que o pior já lá vai, será pago com juros muito altos.
Sem por em causa a melhor das intenções de ninguém, o cansaço, o desgaste e, porque não dize-lo, o desnorte e o sentimento generalizado de frustração e incapacidade, começa a ser por demais evidente a todos os níveis dos responsáveis pela condução deste processo. Há sintomas alarmantes e mais que suficientes para que, urgentemente, se pare para pensar e fazer uma análise exaustiva, profunda e descomplexada da situação e, sem esquecer o que se fez bem, é preciso ter em conta que seria um erro crasso tentar ignorar o também muito mais que deveria e poderia ter sido feito para que tudo tivesse corrido muito melhor. Tendo bem presente que podemos estar perante a última oportunidade para o fazer, está chegada a hora de, com discernimento e coragem, traçar novos rumos e colocar no terreno todos os meios possíveis para enfrentar os graves desafios que se perspetivam, o que, infelizmente, parece não estar a acontecer. Se não vejamos.
Quando, há semanas, a pandemia ameaçou voltar com força renovada e com o risco de evoluir para uma situação descontrolada, em vez de atacar as verdadeiras causas depressa e em força, mais uma vez, à boa maneira cá do burgo, assobiou-se para o lado. Depois, em vez de por no terreno toda a artilharia pesada, como que a medo, lá foram anunciando alguns paliativos avulso, totalmente inadequados e manifestamente insuficientes para tentar minimizar a gravidade do ressurgimento da pandemia em áreas extremamente problemáticas com todas as condições para o seu alastramento fulminante, acabando por ignorar os casos graves despoletados por diversos grupos de jovens, tentando depois desculpabilizá-los com a explicação peregrina, quase anedótica, de que os jovens, segundo a infeliz opinião de um alto responsável político, “PRECISAM DE SOCIALIZAR”, opinião esta tão despropositada quanto inoportuna, questionável e perigosa.
Numa perspetiva de equidade e justiça, a tese de que os jovens precisam de socializar, teria sempre de ser analisada no contexto global da situação e, ao reconhecendo-lhes os seus direitos, teriam também de ser-lhes imputadas, perante a sociedade e perante si próprios, responsabilidades iguais às de todos os outros cidadãos, o que acabaria por levantar questões muito sérias, cujas respostas deveriam condicionar as atitudes de cada um.
Dando de barato que que os jovens precisam de socializar, é obrigatório lembrar-lhes que todas as pessoas que garantem serviços essenciais como os da saúde, segurança, emergência, abastecimentos, etc. também têm o seu direito de socializar com os seus amigos e sobretudo, se por causa dessa socialização, acabar tudo numa infeção generalizada, para se curarem, perdem o direito de exigir ao pessoal da saúde que corra riscos evitáveis, abdique do seu direito ao descanso e à socialização com os seus e, porque são os únicos responsáveis por apanharem a infeção ,se vivêssemos num país a sério, deviam ser obrigados a pagar todas as despesas causadas ao Serviço Nacional de Saúde, tanto por eles como por todos aqueles a quem, comprovadamente, transmitissem a doença. A não ser assim, continuaremos todos entretidos a brincar com o fogo.

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