A opinião de ...

A aurora do Ano Novo

Estamos no primeiro de janeiro.
Um novo ano começa
Que sucede ao que passou.
É natural que aconteça,
Porque o tempo vai girando
Tal como sempre girou.

Depois dos muito fugazes
E encantados festejos,
Que, com danças e com beijos,
Febrilmente aconteceram;
Já depois da jantarada
Na mesa bem preparada;
Depois do louro champanhe,
Das muitas bebidas raras
E das fitas multicores
A enfeitar tantas caras;
Já depois das bebedeiras
Que são causa de pueris
E volúveis brincadeiras;
Depois de tanto fogo-de-artifício
Que, lá no alto, fulgurantemente brilhou
E a gente embasbacou, de modo intenso,
Para logo se desfazer em fumo denso;
Depois de já comidas doze passas
E ansiosamente ouvidas
As doze badaladas,
Neste primeiro dia do ano que chegou
Com milhares de luzes enfeitadas;
Depois de pedidas para si
As mais felizes graças
Enquanto fazia figas
E ameaças ao ano que acabou
(Um ano de más vozes e de intrigas);
Depois de reciprocamente
Formular os melhores votos,
No modo mais veemente,
De um Ano Novo Feliz;

Muita gente, cansada, preferiu
Deixar os festejos por ali.
Depois da gargalhada mais sonora,
Foi-se embora, foi para a cama.

Mas outra manteve a chama
Desta alegria, pela noite fora,
A noite que tardou em ter um fim
E que tanto agradou assim!

Estamos, portanto,
No primeiro dia de janeiro
Deste Ano Novo – o novo companheiro.
Enquanto uns precisam de curar-se
Da folia da noite que passou,
Outros vão revigorar-se
Na Missa deste dia –
– Dia da Solenidade de Santa Maria.

De joelhos, contristados,
Aliviam os pecados.
Rezam, cantam
E pedem a Deus,
Por intercessão de Maria,
Que lhes conceda a graça da alegria
Que embebeda e acalma.

Mais pedem ao Senhor
Que lhes traga um Ano Bom;
E que, em vez de tanta dor,
Crueldade e desengano,
Prevaleça o Bem e o Amor

Num caminho calmo e plano
Em que a profunda oração
De vozes de almas em prece,
Dê o alento, a luz e a vida
À partilha e comunhão.

Também, neste Dia Mundial da Paz,
Pedem que os tiranos
Libertem a liberdade
Para que nunca mais possamos ouvir
Notícias dadas a conhecer
Nestas ferozes palavras –
– Palavras de estremecer:

Permanentes sedições,
Destruição, fome, doenças,
Choros e humilhações,
Crianças abandonadas,
Famintas, rotas, descalças,
Tão cruelmente exploradas
E ultrajadas,
Com as promessas mais falsas;
Crianças escravizadas,
Rudemente atormentadas
Por execráveis selvagens
De inenarráveis imagens;

Milhares de fugitivos
Obrigados a sair
Da terra onde nasceram e viveram,
Deixando para trás a riqueza,
A beleza e o bem que receberam
Da própria Natureza,
Sem terem qualquer certeza
Do lugar onde ficarem,
Nos países que escolheram;
Fugitivos perseguidos
Pelas crenças nas quais acreditaram
E os valores que conservaram;
Fugitivos atormentados por terríveis ódios
Que tanto longamente os torturaram!

Assim,
Devotos, de mãos postas,
Suplicam à Padroeira, Mãe de Portugal,
Que interceda junto do seu bendito Filho
Para que faça deste ano
Que se apresenta sem luz e sem brilho
O ANO DA JUSTIÇA SOCIAL!
(Adaptado do original)

Edição
4019

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