A opinião de ...

Produtos do Nordeste

 
No decurso do Festival Nacional de Gastronomia duas saliências negativas obrigam-me a considerações acerca do interesse em os produtos do Nordeste descerem até Lisboa e redondezas, e não tecer especulações porque os que vivemos na diáspora percebemos os nós, atalhos e encruzilhadas até mentais que se atravessam no caminho entre lá em cima e cá em baixo. Vamos e vimos porque tivemos de sair.
A primeira radica-se no facto de não ter lobrigado castanha à venda que ostentasse a chancela da Terra Fria, se os sucedâneos do bisaro estavam impantes a suscitar claro desejo, se as alheiras também dele em parte dependentes acompanharam a contento, no referente às «lágrimas dos castanheiros» nada.
A outra evidência da falta relaciona-se com os vinhos nordestinos, porquanto os durienses desde há muito que, merecidamente, estão na ribalta vínica. Andei e cirandei pelo Salão de Vinhos, quanto eu gostava de ter visto e provado os brancos, tintos e roses pertencentes ao meu bilhete de identidade. Nada.
No restaurante Académico de Bragança bebi o tinto Quinta do Escairo, colheita de 2010. Um senhor vinho. Algumas pessoas disseram-me que os enchidos, o presunto e um ou outro queijo podem ser adquiridos nos centros urbanos de maior dimensão, agora os vinhos só em Festivais, Feiras ou Festas de ocasião. Julgo não existir exagero no dito, já tentei aquilatar das virtudes das últimas criações vinícolas sem grande sucesso. No referente às provenientes da Quinta do Escairo apreciei o branco filho da formidável casta Chardonnay uma única vez, o tinto da casta cantada pelo célebre poeta persa Omar Khayyam desconheço-o, tal como o Cabernet-Sauvignon, os dois colheita de 2011.
Neste pormenor vale a pena reflectir acerca da “invasão” de castas de fora apagando as nossas, logo a herança cultural dos ancestrais.
Os produtores sabem quão difícil está o negócio no qual existem exorbitâncias tentaculares, raivosas competições acrescidas de muros de entaipamento a dificultarem o reconhecimento dos néctares provindos de terras onde outrora as vinhas ganharam justificada fama seduzindo compradores para além do minguado reino circular, no caso em apreço os galegos e leoneses. Os almocreves do vinho deram azo a hilariantes episódios recontados de forma a ficarmos vaidosos.
Tão gritante existência topa-se numa breve incursão pelos cancioneiros, poesia popular, e se dúvidas existissem recorremos à corografia; Lagarelhos, Vinhas e Vinhas são disso vivaz exemplo.

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3498

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