A opinião de ...

O país do “faz de conta”

Recordo-me que antigamente, quando as crianças queriam brincar na rua, tinham de organizar/improvisar tudo, coisas normais como a escolher os locais, os jogos, a constituição dos grupos, ou as regras dos jogos, e já então, os “lideres”, para convencer os que não gostavam das tarefas que lhes calhavam, lhes diziam que aquilo era só para brincar, resumindo-se todo a uma espécie de “Faz de conta”.
Passado tanto tempo, o conceito do “faz de conta”, foi tomando conta do nosso dia a dia e, quase sem se dar por ele, qual epidemia sem vacina que o possa controlar, o que então se resumia a uma brincadeira de crianças, veio a transformar-se numa das imagens mais negativas da democracia.
Depois duma quase milenar, e nem sempre respeitável, monarquia, duma 1ª.república conturbada e trauliteira, duma longa e tenebrosa ditadura e do raiar da nova esperança trazida pelo 25 de abril, é difícil de compreender como foi possível que, em meia dúzia de anos, o nosso se deslumbrasse e deixasse anestesiar , acabando por se transformar no país que agora temos, o exemplo do país que “ FAZ DE CONTA” que:
- Não tem 1.600.000 de pobres a viver com menos de 540 euros por mês:
-Não sabe que os médicos estão exaustos porque, desde janeiro a setembro deste ano os já fizerem 6.000.000 de horas extra mais que em igual período do ano passado e o absentismo por doença subiu (só!) 44%;
- Que só há problemas nos hospitais de Setúbal, Leiria, Guarda, Castelo Branco e V. Franca de Xira, onde os doentes são armazenados na garagem;
- Não há carros oficiais a infringir as regras de transito pelo país fora;
-Está resolvida a vergonhosa tentativa de por os patins ao CEM da Armada;
- Quatro anos depois dos incêndios do verão de 2017 está tudo resolvido;
- Não sabe que investimos milhões nas nossas universidades para formar profissionais de saúde de enorme qualidade para depois, sem obter qualquer retorno desse investimento, os vermos partir para países ricos como a França, a Alemanha ou a Inglaterra;
- Não sabe que cá, muitos centros de saúde, nem médico de família têm;

-Não tendo nós possibilidades nem para comprar um burro, para se dar ao luxo de ter uma companhia aérea, se continua a enterrar milhões na TAP;
-Os milhões metidos no BPN e no BANIF ultrapassaram os custos necessários para o alívio das pensões e da devolução de IRS;
- Em Gaia há pessoas a viver em tendas junto à casa onde moravam;
- Que a justiça, vergonha atrás de vergonha, está a perder o prestígio que tinha perante os cidadãos e a transformar-se numa vergonha nacional;
- Que temos um governo apenas preocupado em “comprar” a aprovação do OGE/20/21, sem ter dinheiro nem se preocupar donde ele venha e um presidente exausto que, depois de gastar tanto latim a defende-lo, acaba de prometer que, finalmente, resolveu ficar calado.
Por quanto tempo? Será melhor esperar para ver.

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