A opinião de ...

Razão cívica, razão académica, razão política, razão partidária

O cidadão Carlos Fernandes reagiu, em Mensageiro de Bragança de 27/02/2014, p. 7, com um sugestivo título de «Não Vale Tudo», ao meu artigo de há três semanas, intitulado «Um brazão de ouro adulterado», no mesmo semanário, em 13/02/2014, p. 7 também. Fá-lo na condição de cidadão e, deduzi, na de militante do PSD, condição que introduz uma lógica partidária e uma defesa da versão factual deste Partido.
Acusando-me de adulterar a história autárquica do município de Bragança, de confundir datas e factos, e de realizar uma «incompreensível cambalhota», não encontrei nada no meu artigo sobre que lhe dar razão, a não ser que, de facto, ele, Carlos Fernandes, apresentou, em 1990, uma moção solicitando o nome de José Luís Pinheiro ao Estádio Municipal, facto que não referi no meu artigo porque não me lembrei dele. Por isso, só neste facto, a razão académica, a do saber e dos factos, lhe cabe.
Quanto à cambalhota, não entendi se se referia à minha saída do PS ou à minha actual consideração por José Luís Pinheiro, enquanto Presidente da Câmara Municipal designado (1975-1976), e eleito pelo PSD (1976-1982) e pelo CDS (1983-1989).
Carlos Fernandes acusa-me de confusões que realmente não faço porque quem perdeu as eleições autárquicas, em 1989, foi o PSD e quem as perdeu, em 1997, foi o PS. Também afirma ser eu membro da Assembleia Municipal em 1989, e que o PS detinha maioria absoluta nesta Assembleia, no mandato 1990 - 1993, coisas que são de todo mentira.
Finalmente, acusa-me de entrar em contradição comigo mesmo, afirmando que o PS, grupo em que então me inseria, votou, em 1990, contra a proposta por si apresentada, e vir agora defender o nome e a obra do Engº José Luís Pinheiro. Em 1998, o PSD, em cuja bancada Carlos Fernandes também estava, votou contra uma proposta minha de louvor ao Engº José Luís Pinheiro e ao Dr. Luís Mina. O meu erro e o do PS e o seu erro e o do PSD consistiram em agirmos, então, segundo a razão partidária.
O MSP, onde hoje me integro, absteve-se na proposta da medalha de Brazão de Ouro para Jorge Nunes, isto é, aprovou-a, porque atuou no âmbito da razão política e cívica. Deixámos para trás a razão partidária que, felizmente, nem sempre conforma os atos dos partidos. Até os animais evoluem, quanto mais os homens, caro Carlos.
A razão política é bem diferente da razão partidária que subjaz à maior parte do argumentário disputativo dos partidos. A maior parte das vezes, este argumentário é centrado sobre si mesmo ou sobre conveniências e interesses pouco compatíveis com o interesse social geral, e, só muito raramente, os partidos conseguem colocar a razão partidária ao nível das razões cívica, académica e política.

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3463

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