A opinião de ...

Caminhar unidos

 
Antonio Spadaro, no seu livro Papa Francisco – Temos de ser normais, relata que, perante uma questão sobre o futuro da unidade da Igreja, o Papa Francisco respondeu que “Devemos caminhar unidos nas diferenças: não há outro caminho para a unidade. É esse o caminho de Jesus”.
Ora, sendo eu um admirador incondicional do Papa Francisco, só poderia estar totalmente de acordo com esta afirmação.
Passando a outro domínio e estando de acordo, quem se propõe percorrer um caminho pode optar por fazê-lo só ou na companhia de alguém. Fazê-lo só representará isolamento, egoísmo, arrogante e consentida solidão. Pelo contrário, fazê-lo na companhia de alguém representa partilha, entrega, doação e aprender muito mais.
Se, na forma de pensar e agir, existe diferença entre o Homem, não deverá ser ela de tal maneira radical que faça com que não haja entendimento, porque o entendimento é necessário para poder caminhar-se com segurança.
Desde os tempos mais remotos que o Homem, com aquelas diferenças, se viu na necessidade de fazer parte de grupos, ora para suprir os alimentos, ora para garantir uma boa defesa, para organizar um ataque, para fazer avançar os seus conhecimentos. Teve, por isso, de esbater essas diferenças e de tentar com que elas se aproximassem da maneira de ser e de pensar de outros.
É claro que, formando grupos, forçoso se tornou nomear ou eleger alguém que os dirigisse. E foi em torno desse alguém que as diferenças tiveram de se esbater: primeiro, porque era impossível que todos pensassem da mesma maneira que o líder do grupo; segundo, porque, fazendo convergir a forma de atuar, ela tinha que sair reforçada; e, finalmente, porque nisso sentiram a vantagem que advinha para a credibilidade  e estabilidade do próprio grupo.
Chegado a este patamar, percebeu o Homem que nem sempre os grupos concordavam com as mesmas soluções no seu caminhar pela Terra. E, enquanto relevou as diferenças de cada um desses grupos – diferenças dificilmente suplantadas, pois eram já herdeiras de outras que sentiram necessidade de se amaciarem para o bem comum simbolizado agora na vontade de um líder que as assimilou e transformou – o Homem, vendo-se assim mutuamente protegido, começou a guerrear, enquanto cada líder, aliciando mais adeptos para o seu grupo, ( que considerava o melhor), desfazia dos demais. E assim a Humanidade foi lentamente dividida. E dividida se tem mantido, embora haja criado frágeis pontes para entendimento, sempre que uma crise espreita e promete ser muito severa.
Chegando a este ponto, o que é que resta? Resta, como diz o Papa Francisco,  “caminhar unidos nas diferenças”, o que, pelos vistos, é muito difícil mas não impossível.
E possível como? Sofreando as próprias diferenças. Diferenças que, à solta,  originam a ambição, a arrogância, o egoísmo, a intolerância, a falta de diálogo, a perda de valores, a perda da compreensão dos outros, a perda da amizade e da lealdade.
Unidos, portanto, nas diferenças para que, em união, se possa caminhar, porque, como no mesmo livro afirma o Papa Francisco, a propósito das Igrejas jovens e antigas,  “O futuro, porém, constrói-se em conjunto”.
 
 

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