A opinião de ...

O Papa Francisco e o Natal

Não posso deixar de estar completamente de acordo com o Papa Francisco quando se refere ao modo como se celebra hoje o Natal.
Na verdade, muita gente está à espera da época natalícia - uns para vender e outros para comprar: é a altura do ano em que o consumismo atinge a máxima expressão.
Na verdade, há também gente à espera, desde o Natal anterior, de quem lhe sirva uma refeição, de quem lhe dê um agasalho, de quem lhe traga uma palavra de conforto e de resignação.
A preparação desta quadra em termos consumistas começa bem cedo; e mal entra novembro, ouvem-se já, sobretudo nas grandes superfícies comerciais, as doces e saudosas melodias do Natal; e aos rostos da multidão que as percorre, principalmente rostos de crianças, aflora logo um sorriso de ansiedade, prevendo grandes dias de festa.
As ruas e os edifícios enchem-se de luzes de variadíssimas cores; exibem-se grandes e iluminadas árvores de Natal, cada qual a mais celebrada (mais alta, mais iluminada, mais colorida); e as montras comerciais, lindamente enfeitadas, chamam a atenção dos desejados compradores.
Há chamativos que implicam: promoções, saldos, nova gerência.
Os carrinhos das compras veem-se a abarrotar, desde o bacalhau e o polvo aos brinquedos; desde chocolates e outras gulodices a fantasias para enfeitar a noite de Natal. Aproveita-se para comprar o melhor computador, o melhor telemóvel, a melhor televisão.
Na montanha, os dias são de neve, enquanto o frio atormenta em toda a parte.
Das casas sobe o fumo das lareiras. A família começa a reunir-se e prepara-se o festim para a noite de Natal.
O encanto chega aos olhos e aos corações.
Contudo, longe vai o tempo em que o espírito de Natal era celebrado na companhia do Menino Jesus que deixava os brinquedos e as guloseimas no sapatinho ou na meia que se colocavam na lareira. Agora é o Pai Natal que entra pela chaminé com um grande saco vermelho às costas cheio de coisas boas para as crianças; são os mais variados embrulhos com prendas que, na véspera de Natal, se vão abrindo junto ao lindo pinheiro encimado por uma estrela, de cujos ramos oscilam bonitos enfeites e de um humilde presépio a um canto da casa.
E quem se lembra do que se passa longe, onde o sofrimento e o ódio imperam? Onde as crianças nada têm que comer, são massacradas, exploradas e abandonadas ao seu destino? E quem se lembra de tantos cristãos que são perseguidos e espoliados, sem qualquer liberdade para celebrarem o seu Natal? E quem se lembra do ódio que leva ao terror e à carnificina? Quem se lembra?
É que o espírito desta época tão festiva para o mundo cristão deveria ser o começo de uma enorme e constante solidariedade, dia a dia protegida pelo amor que nos vem do humanismo, bondade e sorriso duma criança, há dois mil anos nascida de Maria, num pobre estábulo, sob a proteção de José, no meio de cânticos e luzes celestiais - sublime quadro que a imaginação do humilde São Francisco de Assis nos deu a conhecer na representação do Presépio

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