A opinião de ...

O “Grito”, a Guerra e os Terramotos na Turquia e Síria

«Há muita gente que neste País [neste mundo] troveja em vez de refletir, há muita ameaça, muita cólera, que produzem anticorpos da desconfiança, quando tanto necessitamos de sabedoria que empolgue pela eficácia e pela discrição». Desta forma se exprimiu Fernando Namora em Jornal sem data: cadernos de um escritor. Bertrand, 1988. Qual a razão desta nota introdutória?
Ligo a televisão e logo um coro de ataques surge contra tudo e contra todos; folheio jornais e desanca-nos o barulho dado à direita e à esquerda; ouço comentadores que de tudo percebem, e é vê-los e ouvi-los perorarem, sabichões que são, do alto do seu império. Comentam o que viram e não viram. Comentam comentários.
A pintura de Edward Munch, “O Grito”, quarta versão (1910), abaixo exibida, sugere medo, pânico, ansiedade – algo que se vai tornando viral nas nossas mentes carregadas de sombras e de pessimismo contagiante. Não é de pasmar que, mais cedo ou mais tarde, surja a indiferença, pois o que se deseja é tão simplesmente “acabe-se com esta guerra”.

As notícias sobre a guerra que aflige a Ucrânia e, fortemente, a Europa, todo o mundo, transmitidas em direto, provocam em nós tal ansiedade que, lentamente se vai tornando uma rotina. E os cidadãos, o que que pretendem desta Europa, dos seus líderes? Somente o desejo de que surjam estadistas capazes de propor medidas concretas tendentes ao estabelecimento da paz. Não há estadistas que, luminosos, consigam impor negociações às partes beligerantes? Também parece que uma e outra parte não estão empenhadas em iniciar um diálogo sério, construtivo e eficaz. Esquecem-se que na guerra todos perdem, que não há vencedores.
Reparai agora, leitores, o que se passa na Turquia e na Síria: dezenas de milhares de mortos e de feridos, centenas de desaparecidos, famílias destroçadas, cidades destruídas – é o Homem a sofrer. Qualquer dia, tal como acontece com a guerra, as notícias, que mostram dor e sofrimento, conduzirão, aos poucos, à indiferença. É o individualismo que procura superar a agonia que vai imperando por todo o mundo. São precisas elites. Não elites que subjugam, que massacram, que se fecham nos seus processos de sobrevivência política – mas elites que nos conduzam para a paz, para a justiça e para beleza da vida.
Somos dados a recuperar, infelizmente, a tese do economista e pai da demografia, o inglês Thomas Malthus (séculos XVIII-XIX): o seu conhecido pessimismo quanto ao desenvolvimento humano. Tomava ele a premissa de que a população crescia mais do que a oferta de alimentos e de outros produtos, assim se gerando a pobreza e a miséria, um fenómeno demográfico irreversível. Ora, defendia Malthus, se o Homem faz a guerra, se a Natureza se encarrega de nos visitar com fenómenos destrutivos, teremos o “remédio” para os problemas económico-demográficos. Será, assim, à custa da guerra? Não nos bastam os sismos?

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