A opinião de ...

Violência contra as Mulheres

Retiro do Expresso 50, de 25 de Janeiro - 2023, a frase: «A violência e a discriminação contra mulheres estão presentes em várias esferas da sociedade, e a política não é exceção». Isto, a propósito das ameaças contra a primeira-ministra da Nova Zelândia, que renunciou ao cargo. Estamos perante um problema estudado, debatido e escrito segundo diversas abordagens, mas sem vislumbre de resolução. O que se passa neste nosso Universo Humano? Várias obras nos dão conta, por exemplo: (i) “Humilhação e Glória” de Helena Vasconcelos (HV), Quetzal, 2012. (ii) “Violência contra as mulheres”, de Nelson Lourenço e outros, Cadernos da Condição Feminina, Edição da Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, do Alto Comissário para as Questões da Promoção da Igualdade e da Família, Lisboa, 1997. (iii) “Abrindo a caixa de pandora: a participação política das mulheres, as desigualdades de género e a ação positiva”, de Maria Helena Santos e outros, Revista científica ID Ciência-IUL, 2017. Esta autora refere que tem havido uma evolução positiva no sentido da igualdade de género, mas há factos que demonstram persistirem crimes de índole diversa, usando de força ou de persuasão, na violência contra as mulheres que exercem cargos políticos. A reflexão sobre violência contra as mulheres que desempenham tarefas do múnus está bem documentada.
O que, aqui e agora, pretendo relembrar é somente a atualidade do ensaio “Humilhação e Glória”. A autora exibe-nos um relato documentado, escrito em linguagem acessível, referindo a evolução das dificuldades das mulheres num mundo dominado pelos homens, quase sempre escrito pelos homens. Desde a Antiguidade até aos nossos dias – eis um ensaio que nos faz refletir. São as mulheres do campo, as cortesãs, as lavadeiras, as criadas, as serventes, as escravas, as assediadas, também aquelas que por diversas formas lutaram contra o domínio patriarcal, em que as estruturas sociais estavam e estão ainda centralizadas no homem. O que releva, quanto a mim, é a luta pertinaz de muitas mulheres anónimas e de muitas outras de que a História nos fala. Nos EUA, na Europa, no Brasil, na Ásia, em diversos contextos políticos, culturais e religiosos, surgiram mulheres nas artes, na guerra e na paz, na ciência – «O acidentado percurso de algumas mulheres singulares», como enfatiza HV, fazendo referência especial às conquistas das mulheres nas últimas cinco/seis décadas. Vale a pena ler.
Relembro as vivências das mulheres portuguesas e africanas ao longo da guerra colonial. Cá, esperavam que os filhos ou maridos ou afilhados ou irmãos ou noivas ou namoradas regressassem inteiros de corpo e alma (mas quantas vezes, metidos em caixões de pinho…). Lá, sentindo na pele a mágoa de ver homens seus lutando pelo lado português ou pelo lado dos movimentos independentistas, sem terras para cultivar, casas arrasadas, meninos sem lar. Em ambos os casos, o direito de viver. Básico, essencial. Hoje: quantas pessoas, sobretudo mulheres e crianças, no Mundo, não usufruem do direito mínimo: o de viver em paz, segurança social e liberdade – artº. 3º da Declaração Universal dos Direitos do Homem?!

Edição
3921

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