Manuel António Gouveia

Do alto dos oitenta e tal ano

erante a irredutível resistência de Domingos Botelho em se valer das suas influências para livrar da forca o seu filho Simão, apenas um idoso e “venerando” familiar com 83 anos de idade o fez ceder – assim Camilo no-lo dá a conhecer no “Amor de Perdição”. É o momento em que esse familiar coloca aquele irascível pai perante a alternativa: ou ele de imediato intervém a favor do filho ou então, (enquanto “apontava ao pescoço uma navalha de barba”), com aquela idade e uma vida honrada e exemplar, não valeria a pena continuar a viver sob a desonra que iria cair sobre a família.


O apocalipse que se aproxima

Ao falarmos de apocalipse, não podemos deixar de pensar numa hecatombe cujas consequências dificilmente serão por nós imaginadas e, mesmo imaginadas, totalmente compreendidas. No entanto, o apocalipse aproxima-se… e não vai tardar muito a aparecer, porque há bastante tempo que os seus graves indícios têm vindo a revelar-se, cada vez com mais intensidade.


Atirar a primeira pedra

“Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra!” (Jo: 8,7).
Vive-se muito a investigação da vida pessoal de qualquer pessoa, se essa pessoa vai fazer ou faz parte dum cargo relevante em qualquer instituição. E chega a tornar-se doentia a persistência com que essa investigação avança.


“Por que nos matamos?”

Há muito tempo que esta pergunta anda a desafiar-me para falar sobre as suas causas e sobretudo sobre os seus efeitos.
Ouvi esta frase a um repórter de guerra, num filme cujo nome não consigo identificar, mas penso que seria sobre a II Guerra Mundial. Tanto me impressionou que me acompanhou desde o dia em que vi esse filme.


O Grande Discurso da Terra

De há uns anos para cá, a Terra tem vindo a mostrar-nos, através dum grande discurso ilustrativo, as graves consequências da má e inimaginável atuação do Homem para com ela. Certamente todos temos visto, ouvido e sentido esse grande discurso, mas parece que nem todos o têm compreendido ou não querem compreendê-lo.
Perante todo o desprezo e maldade com que o Homem a tem tratado, depois de muitos avisos, resolveu discursar. E, enquanto discursava, fez-nos observar, através de imagens bem nítidas, muito bem escolhidas e sobretudo trágicas, tudo quanto ia afirmando no seu discurso.


O inefável bem

Após o conforto de alguns momentos no meu sofá, (o melhor observatório que me proporciona visualizar bem a televisão, onde recolho a informação mais recente e adequada ao meu sentir), muito me apraz chegar à conclusão de que quem nos governa ou se acha capaz de nos governar, todos querem o nosso bem. E eu fico muito satisfeito por ser um dos muitos beneficiários de tanta consideração.

Na verdade, não há nenhum partido que me queira mal – o que eu agradeço.


Olhar o Futuro

Tenho um amigo que sempre se considerou bem-falante; e, por isso, nunca se eximiu a manifestar orgulho por si próprio. Quando os ditos desse meu amigo começaram a andar de boca em boca, todos achámos por bem trata-lo como um bom pensador – contudo, um bom pensador que sabíamos endividado.


A Festa da Cereja

I - Canção para a cerejeira

Olha a cerejeira
De verde vestida.
- Olá, cerejeira!
Poema de vida!

Olha a cerejeira
Coberta de flor.
Vai dar-me um raminho
Para o meu amor.

Olha a cerejeira.
- Cerejas vermelhas!
Vai dar-me um brinquinho
Pra pôr nas orelhas.

- Adeus, cerejeira,
Que me vou embora.
Nem na despedida
Mais triste se chora.

II - A Cereja


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