A crise do Multilateralismo
O pensamento internacional que orientou a organização da ONU, embora fazendo circular a convicção da igualdade dos Estados membros, sem diferenças étnicas, culturais, e poder, de facto aristocratizou o objetivo essencial que era a manutenção da paz. Nesta data o excelente grupo de Thierry Montebrial (Ramese, 2020) desafia a meditação. Reduziu a intervenção, no Conselho de Segurança, a 15 membros, que decidiram em nome de toda a Assembleia Geral, se qualquer dos cinco, não usasse o direito de veto (EUA, Reino Unido, Rússia, China, França), o que levou Alan Depammer a concretizar que “dos 193 da Assembleia Geral aos 15 do Conselho de Segurança, dos 15 do Conselho de Segurança aos cinco membros permanentes, dos 5 aos três ocidentais, dos três aos dois anglófonos, dos dois filhos da mãe-pátria britânica ao único separado americano, a marcha está determinada e é uma marcha para o unilateralismo”. A atual política do chamado “único objetivo americano” é a que mais coloca em instabilidade o multilateralismo, inspirado no século XX deste século sem bússola, mas abandonado pela frequente independência da presidência americana, a polaridade da concorrência entre EUA, China, e Rússia. Todavia, ao contrário desta referida concorrência ter em vista a antiga importância do poder, não apenas económico e cientifico, mas perigosamente militar especialmente pela contrariedade da expansão do poder marítimo da China no Pacífico a que regressa, a crise do multilateralismo é resultado da história, e abrange o globo. A história recente, a referência da ONU com a utopia do mundo único e da terra casa comum dos homens tendo como que pressuposto que a antiga “Luz do Mundo” da Europa fora apagada por aquele centro das “Nações Unidas”, é este logicamente crente do multilateralismo. O fim da guerra fria pareceu abrir-lhe um regresso, mas a presença e autoridade da União Europeia, a manutenção da NATO hoje por vezes posta em dúvida, a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), o facto de a China conseguir postos importantes, como Secretário Geral na Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), nas telecomunicações (UTT) representante da ONU para a agricultura e alimentação (FAO), os EUA inquietando os aliados por desconhecer o principio impositivo do multilateralismo, até a diversidade ideológica do globo, tudo agride o multilateralismo, talvez para além da União Europeia, mas vendo criar a ALENA, o MERCOSUL, o bloco criativo do Japão, enquanto a Rússia avança com uma União Económica Asiática atraindo amigos na área económica e política contra poderes exteriores, e a China fortalecendo o projeto da Rota da Seda. Parecendo sempre vasta a evolução que atinge o multilateralismo. Acontece que tão complexa mudança provoca a contradição da crise mundial que agrava, e a que a vigorosa professora Geneviève Azam advertiu que os humanos estão submetidos a irreversibilidades aceleradas e sem normas a que “num mundo tão brutal”, “a convivialidade é um combate”. A crise do multilateralismo é uma violação irresponsável nesta crise histórica que exige reformulação ética dos objetivos humanos.