A opinião de ...

Droga apreendida nos mares do sul

Tendo em conta as notícias, nestes três primeiros meses de 2023, as autoridades já apreenderam mais de 20 toneladas de droga (haxixe) nos mares do sul do país. Este valor excede em quase 4 toneladas o total de haxixe apreendido em 2022 e é cerca de quatro vezes mais o valor de 2021. Também as pessoas detidas ou identificadas é bem superior. 34 nestes 3 meses, contra apenas 6 em 2022 e 3 em 2021. Os dados relativos a embarcações de alta velocidade apreendidas também indiciam que alguma coisa está a acontecer de diferente. 13 embarcações em 2023, 15 em todo o ano de 2022 e 5 em 2021.
Estas apreensões são responsabilidade conjunta da Autoridade Marítima, da Força Aérea, da Marinha e também da Polícia Judiciária que, em termos legais, é a polícia com competência para a investigação do tráfico internacional. A colaboração destas entidades está prevista e legislada há vários anos e as grandes rotas do tráfico internacional são conhecidas e estudadas há muito tempo pelas polícias de todo o mundo. Então o que é que justifica tal aumento de apreensões, sobretudo este ano? Até porque, como sabemos, os investimentos do Estado na melhoria das condições de trabalho e nos meios materiais disponibilizados aos seus profissionais não têm sido os suficientes para melhorar substancialmente a sua motivação e tornar as profissões ligadas às Forças Armadas e polícias mais atrativas.
A pandemia do Covid 19 afetou consideravelmente todas as áreas da vida das sociedades e também o mercado das drogas e do seu negócio. Segundo o Relatório Europeu sobre Drogas e Toxicodependência – 2021, do respectivo Observatório Europeu, que tem sede em Lisboa, tanto o “mercado da droga como os padrões de consumo estão a tornar-se cada vez mais dinâmicos, complexos e interligados” e que o mercado se carateriza pela “disponibilidade generalizada de uma gama diversificada de drogas de pureza ou potência cada vez mais elevada”. Os padrões de consumo são cada vez mais complexos, com a introdução no mercado de muitas substâncias sintéticas e o desvio de novos medicamentos, sobretudo de benzodiazepina, para o mercado do tráfico, levando a multiconsumos e ao aumento de efeitos prejudiciais, em especial na saúde.
Não sendo conhecidas novas políticas nem tendo havido alteração estratégica nesta luta contra o tráfico noutros países, parece-me poder concluir que este grande tráfico no mar do sul de Portugal sempre existiu. O êxito obtido nestes 3 meses ficará só a dever-se à melhoria da articulação e intervenção entre as partes. A FA aumentou e alargou a vigilância até às 300 milhas. Após a deteção das lanchas voadoras suspeitas a comunicação consequente, a rápida intervenção conjugada e musculada das outras forças tem permitido levá-las a bom porto e aos traficantes. Que assim se mantenha para o bem de todos.

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