A opinião de ...

A Cidade Educadora

Tudo educa e todos nós somos agentes de educação, para além de que todos nós somos efetivamente recebedores de aprendizagem.
Aprendemos desde crianças, com os nossos Pais, os nossos familiares, na Igreja ou com os nossos amigos, mesmo antes de ir à Escola, que por exemplo o cumprimentar é um ato de educação, o respeito para com os mais velhos é um ato de educação, o dizermos a verdade, o aceitarmos as diferenças ou que todos temos a mesma dignidade, são atos de educação. De boa educação.
Isto significa, primordialmente, na pluralidade do processo e da organização educativa (formal, informal e não formal) que é necessária uma envolvência de toda a sociedade no contributo para a Educação e consequente melhoria dessa própria sociedade, tornando-a mais consciente, mais crítica, mais participativa e mais colaborativa.
Isto é tanto mais verdade quando assistimos a eventos de alguma violência na Escola ou perpetrados por Alunos fora dela, como os casos recentes do aluno que ficou ferido por um disparo à porta de uma Escola em Loures presumivelmente resultante de uma disputa eleitoral para a respetiva Associação de Estudantes, o do menino de 12 anos que ficou internado após agressões em sala de aula em Torres Vedras ou o dos 46% dos jovens portugueses (13 e os 15 anos) que afirmam ter sofrido ou ter estado envolvidos em situações de bullying no ano anterior, como refere a UNICEF.
Situações como estas, infelizmente, associadas a outras de indisciplina, grave e muito grave, tem-se verificado cada vez mais no nosso País, o que torna imprescindível a implementação de ações visando uma mudança educativa, quer na sala de aula e na Escola, quer na própria sociedade em geral.
A atitude de ignorar os problemas, de os deixar evoluir ou então de os transferir para a esfera das responsabilidades apenas da Escola, dos Professores e do Pessoal Não Docente, definitivamente, é uma atitude perversa com impactos bastante negativos na Educação das crianças, adolescentes e jovens bem como até no bem-estar e segurança da sociedade.
Deve dizer-se que Bragança nesse particular é ainda um oásis, com alguns casos menores ou algum vandalismo (que o digam as árvores da Alameda Santa Apolónia), muito se devendo, lá está, ao enquadramento familiar, escolar e social que ainda existe e da preocupação de educar de forma integral, com valores e princípios.
Neste contexto, invoco ainda, a propósito, não só a efeméride que se assinala no dia 30 de novembro, como “Dia Internacional da Cidade Educadora”, mas sobretudo a importância que reveste esta Associação Internacional de Cidades (não tendo nada a haver com dicotomias “cidade – aldeia”, no caso português compreende até o âmbito municipal concelhio), no entendimento do nível de envolvência na Educação.
Portanto, o que distinguirá uma “cidade comum” de uma “cidade educadora” é que nesta, intencionalmente, todas as potencialidades educativas disponíveis são convocadas para a concretização de deliberações, ações e compromissos do direito e do dever à Educação.
Compromissos como “procurar que todas as famílias recebam uma formação que lhes permitirá ajudar os seus filhos a crescer e a apreender a cidade, num espírito de respeito mútuo”, “estar conscientes dos mecanismos de exclusão e marginalização que as afetam e as modalidades que eles apresentam assim como desenvolver as políticas de ação afirmativa necessárias” ou “estimular o associativismo enquanto modo de participação e corresponsabilidade cívica com o objetivo de analisar as intervenções para o serviço da comunidade”.
Preconiza ainda que esteja “dotada de espaços, equipamentos e serviços públicos adequados ao desenvolvimento pessoal, social, moral e cultural de todos os seus habitantes, prestando uma atenção especial à infância e à juventude” (Carta das Cidades Educadoras, 1990).
A educação para a cidadania democrática, a relação positiva inter e entre gerações e sobretudo o exercício pleno da dignidade de cada Pessoa devia-nos levar a pensar nisto.

Edição
3860

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