A opinião de ...

A mochila da Clara

Nem sempre os responsáveis pela educação das crianças decidem bem e na hora adequada. Por isso, acontecem situações muito complicadas.
É o caso do peso das mochilas. Não sei por que razão se tem perdido tanto tempo com uma decisão que já devia ter sido posta em prática: aliviar o peso que os alunos levam para a escola.
A este propósito, um amigo meu que tem um filho no sexto ano de escolaridade teve a amabilidade de me ler uma cópia da pequena história que a professora leu aos alunos no Dia Mundial da Criança:
 “Há poucos anos, andou numa escola desta cidade uma menina chamada Clara. Está agora no Porto a frequentar a Faculdade para, quando tiver oportunidade, ficar à frente de uma equipa que faça campanha contra o peso das mochilas que vocês têm de trazer para a escola.
Neste momento, todos levantaram a mão para dizerem que a sua mochila também era muito pesada.
- Eu não sei por que é que os livros são tão pesados. O meu avô Tiago disse que, quando andava na escola, os livros eram leves: não pesavam quase nada. E também as folhas não brilhavam como estas, que até não conseguimos ler por causa do reflexo da luz quando bate nelas. – disse o Abel.
- O que é o reflexo, senhora professora? – perguntou o Francisco.
Mas o Abel nem a deixou esclarecer:
- O reflexo é o brilho que parece que nos cega, quando a luz bate nos livros colocados na mesa, numa certa posição.
- É verdade. – disse a senhora professora. Isso incomoda muito. Mas deixem-me continuar!
Estava eu a contar sobre o peso da mochila da Clara.
Ela era magrinha e tinha pouca força para andar com tanto peso às costas. Como a Clara, havia outros colegas com o mesmo problema mas a senhora professora não podia fazer nada. Os pais bem reclamavam; e embora com muitas promessas, ninguém lhes resolvia o problema.
Num dia de inverno em que fazia muito frio e o chão estava coberto de gelo, ia ela com mais colegas para a escola com a mochila carregada de livros e outro material, quando escorregou, caiu e, para infelicidade dela, partiu um braço.
Este acidente andou nos jornais durante algum tempo. Mas mesmo assim, ninguém se considerou responsável, a não ser o seguro escolar; e quando os jornais não disseram mais nada, as coisas continuaram como antes.
- Os livros assim até são mais caros! E para quê? – perguntou a Alice.
- Para nada. – concluíram vários alunos.
A senhora professora aconselhou-os a que não trouxessem livros que não faziam falta para aquele dia. E via-se bem que estava com os alunos e com os pais:
- Este é um problema muito complicado que parece que ainda vai demorar a ser resolvido. – disse a senhora professora. E continuou: - Esperemos que a Clara consiga fazer alguma coisa. Mas se não conseguir nada e ficar tudo na mesma, muitos meninos vão ter alguma doença grave para toda a vida.”
Depois de ler a história, mais disse esse meu amigo que os alunos da turma do filho estavam todos de acordo com o problema do peso das mochilas, tanto mais que – diziam - andavam sempre derreados, principalmente nos dias em que precisavam de carregar vários livros.
Acho que este problema é um dos que estão incluídos no que se designa por prioridade. As crianças bem merecem!
Às crianças, quando forem adultas, bastará terem sobre os ombros o futuro do País! E para suportar nos ombros o peso do futuro do País é necessário que quem o suporta tenha de ser saudável!

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